Introdução:
Em um artigo recente escrevi
sobre a suficiência da Escritura, esta é uma doutrina que realmente acredito. Porém
não tem possibilidade de ser um pregador da Bíblia, acreditando na suficiência
e não ser adepto do método expositivo de pregação. Por isso, venho por meio
deste, mesmo sendo um pouco longo, pois é a introdução de uma monografia,
divulgar uma defesa explícita e convicta do único método que verdadeiramente
honra a Escritura como palavra de Deus.
O que é pregação expositiva?
A pregação expositiva é um método
de pregação e um estilo homilético de exposição da palavra escrita de Deus
(Bíblia) de modo fiel ao texto, no qual quem fala é a própria Palavra e faz com
que o pregador se submeta à ação do Espírito Santo um verdadeiro servo da
Palavra.
Na pregação expositiva o mais importante é a palavra de
Deus, pois esse foi o modo que Deus escolheu para se revelar a humanidade e
para produzir fé e intimidade com os seres humanos, sempre com a presença do
Espírito Santo falando e convencendo os ouvintes. A Confissão de fé de
Westminster, a última Confissão Reformada propõe essa dinâmica de ação entre o
Espírito e a palavra de Deus:
“...todas as opiniões
dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o
Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o
Espírito Santo falando na Escritura”.
Durante a história da Igreja de
Cristo, muitos oradores santos usaram recursos e modelos de exposição da
revelação de Deus. Devido à necessidade da mente humana os métodos de exposição
e de ensino são necessários para que a Palavra seja entendida e possa ser
praticada de forma relevante e concreta. Para isso uma argumentação sistemática
e lógica é muito proveitosa na realização do ofício do pregador, pois o mesmo
pode transmitir a verdade de Deus com muita eficiência e clareza.
A explicação do Rev.Hernandes
Dias Lopes traz uma lucidez muito importante para começar a compreender esse
método e a necessidade do mesmo para a edificação da igreja local, ele diz:
“... a pregação expositiva tem o compromisso de
explicar o texto da Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e
interpretativo, transmitindo aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da
Palavra de Deus com aplicação pertinente” (LOPES, 2004, p.18).
Essa definição é muito clara no que
pretende. Mostra o compromisso da pregação em explicar o texto bíblico para que
os ouvintes possam tomar uma decisão de acordo com seu entendimento e
disposição. O autor quer mostrar a integridade do método quando se crê que a
intenção do pregador é falar da parte de Deus e fazer com que o povo conheça a
sua vontade, sendo assim a pregação expositiva é simplesmente expor a Escritura
com seu sentido original e aplicando seu conteúdo ao coração do homem
contemporâneo.
Mesmo sendo um método nobre pelo
que representa e faz na prática a pregação expositiva tem perdido seu valor em
nossos púlpitos. Muitos pregadores evangélicos não sabem que método é esse e
muito menos estão interessados em usá-lo devido sua falta de conhecimento e
disposição para sua elaboração. É necessário considerar também que o
desinteresse pela exposição em muitos casos acontece pelo desejo excessivo de
crescimento numérico da igreja local ou por falta de conhecimento bíblico
adequado.
É muito comum entre os membros
nas igrejas e os pregadores de hoje acharem que tudo que se fala da Bíblia é
exposição ou é pregação bíblica, mas isso pode ser uma falácia, pois tem
surgido em grande número no seio da igreja cristã evangélica homens utilizando
a palavra de Deus ou expondo um tema sobre a palavra de Deus, sendo assim em
muitos lugares já desapareceu a exposição exegética e contextual. Aqui é
necessário se arriscar e dizer que em algumas igrejas locais Deus não tem
falado mais, pois alguns pregadores estão usando a Bíblia para que eles mesmos
possam falar e para que os ouvintes acreditem que a voz que estão ouvindo é a
de Deus.
Alguns pregadores sérios têm
chegado à conclusão de que as igrejas locais no campo religioso brasileiro
precisam urgentemente de uma restauração em seus púlpitos e um retorno ao
ensino homilético de qualidade e que o método expositivo é a melhor forma de
alcançar esse objetivo. O Rev. Hernandes Dias Lopes expressa seu sentimento
dizendo: “De fato, muitos pastores e
membros de igreja entraram numa profunda letargia espiritual. Um reavivamento
no púlpito e nos bancos é absolutamente necessário” (LOPES, 2004, p. 11).
O entendimento sobre a pregação
expositiva deve estar bem claro nas mentes daqueles que têm sido vocacionados
para o ministério da Palavra, pois a ordem ao vocacionado é: “prega a Palavra”.
O objetivo primário da pregação
bíblica é levar a igreja à maturidade espiritual e ao crescimento saudável a
fim de formar discípulos parecidos com Cristo. A pregação expositiva se propõe
a isso, nesse caso a definição de Walter L. Liefeld é bem esclarecedora:
“Pregação Expositiva é explicação aplicada... A
natureza essencial da pregação expositiva, portanto, é pregação que explica a
passagem de uma maneira que leve a igreja a uma aplicação verdadeira e prática
da passagem” (LIEFELD, 1985).
Quando este método é estudado
percebe-se a grande dificuldade que alguns pregadores têm para entender a
diferença de outros métodos. A pregação expositiva é muito confundida com o
método textual; este é muito usado e ensinado em seminários evangélicos e com
certeza o pregador poderá usá-lo como exposição textual, sendo fiel ao texto
usado e explicando seu contexto à luz de outras passagens da Bíblia. O método
de pregação textual também tem sido importante na história da igreja e se for
usado legitimamente e com cuidado pode ser um instrumento de edificação
espiritual, porém para uma melhor compreensão é essencial entender a diferença;
essa diferença é muito bem elaborada por Robson M. Marinho, quando diz: “Numa visão superficial, pode parecer que o
sermão textual e o expositivo são bem semelhantes, pelo fato de ambos se
originarem no texto bíblico. Mas a diferença vai além do tamanho do texto” (Marinho, 1999, p. 145).
O mesmo autor
descreve as principais diferenças, dizendo que:
“o sermão textual extrai as divisões principais do
texto, mas as subdivisões são construídas conforme a argumentação do pregador,
enquanto o sermão expositivo constrói as subdivisões a partir das
circunstâncias do texto”. Outra diferença é que “o sermão textual limita-se a
um versículo da Bíblia, enquanto o expositivo pode usar uma narrativa ou um
conceito de um ou mais capítulos, ou até de um livro inteiro da Bíblia. Um
sermão expositivo pode abordar, por exemplo, a vida do profeta Jonas,
utilizando todo o livro para extrair as divisões e subdivisões da idéia
central”. O autor também declara que no textual, “o estudo do contexto é
recomendável: no expositivo é indispensável, pois, do contrário, o sermão deixa
de ser expositivo(1999, p. 146)”.
O conhecido “príncipe dos pregadores”
Charles Haddon Spurgeon (Spurgeon, 1996) era especialista na pregação textual,
porém sua pregação textual era baseada em uma aplicada exegese e na explicação
de algum texto específico. Percebe-se que até mesmo suas características
temáticas eram trabalhadas na perspectiva do que alguns chamam hoje de pregação
expositiva temática. Lendo seus sermões pode- se ver claramente um grande
cuidado e fidelidade ao texto e contexto da Bíblia.
É importante lembrar que Spurgeon
tinha uma habilidade muito grande nos estudos e na oratória, algo que não se
aplica à maioria das pessoas e principalmente aos pregadores brasileiros.
Também os pregadores de hoje não têm sido influenciados por esse brilhante
pregador, pelo contrário, alguns nem sabem que esse notável servo de Deus
existiu. O problema é que as influências de hoje estão nos campos da
Psicologia, Filosofia e das técnicas de liderança e marketing e não nos campos
da oração, exegese bíblica e de uma teologia comprometida com a verdade das
Escrituras.
A pregação expositiva se baseia
no labor e na busca intensa de expor um texto mais extenso de acordo com o
contexto e intenção do autor, a mesma extrai o tema e os tópicos oferecidos
pelo próprio texto e aprofunda seu significado com aplicação direta aos
ouvintes; um grande pregador chamado Haddon Robinson escrevendo sua tese sobre
Pregação Bíblica diz:
“A pregação expositiva é a comunicação de um conceito
bíblico, derivado de, e transmitido através de um estudo histórico, gramatical
e literário de uma passagem no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente
aplica à personalidade e experiência do pregador, e depois, através dele, aos
seus ouvintes” (ROBINSON, 1983).
A pregação deve ser em sua
essência e propósito, bíblica, sem que a Bíblia seja apenas um instrumento a
ser usado ou manipulado, porém a Bíblia nas mãos de um pregador deve ser
explicada e aplicada para que seu propósito se cumpra como palavra viva e
transformadora de Deus nos corações dos ouvintes. De acordo com a Bíblia parece
que esse é o desejo de Deus, quando declara : “...assim será a palavra que sair da minha
boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo
para que a designei(Isaías 55: 11 – ARA)”.
A
mensagem de Deus aqui deveria ser o suficiente para que o pregador se esforce em
anunciar a palavra de Deus de acordo com o desígnio de Deus revelado no texto
das Escrituras Sagradas.
Se a pregação expositiva se
propõe a explicar o texto bíblico, pode-se concluir que pregação expositiva é
simplesmente expor um texto à luz de seu contexto e sua estrutura se limita às
porções exegéticas do próprio texto.
Na exposição o pregador não tem a
autoridade de inserir seu próprio tema e suas idéias ao texto, pois o próprio
lhe concede todas as partes do sermão e toda a estrutura necessária para que
seja explicado.[1]
Cada porção exegética em nossas
Bíblias com capítulos e versículos nos fornecem os temas e tópicos necessários
para uma boa estrutura de sermão expositivo, fazendo com que o pregador se
atenha ao texto e, suas pesquisas somente reforçam o contexto e não tome o
lugar do próprio texto.
A pregação expositiva contemporânea
A pregação nos dias atuais está
sendo deixada de lado ou alguns meios de comunicações a têm substituído, vários
são os argumentos e alguns até convincentes diante de uma análise sociológica
de nosso tempo. O Rev.John Stott faz uma declaração que revela o que alguns
pastores têm pensado em relação à pregação:
“Os profetas da desgraça na igreja de hoje estão
predizendo, com confiança, que já se passaram os dias da pregação. Dizem que é
uma arte que está morrendo, uma forma de comunicação que está fora de moda...” (Stott, 2003, p. 51).
O mundo está em constante
mudança, o pragmatismo religioso que em alguns anos atrás não era parte do
campo religioso brasileiro agora é visível em todos os lugares e está no
cotidiano religioso se manifestando nas liturgias modernas e conferências sobre
crescimento da igreja, liderança e outras atividades desse tipo.
As estruturas organizacionais
estão sendo formadas tendo em vista um crescimento como nunca visto antes,
técnicas de liderança e marketing tem sido implantadas como uma espécie de
“boom” do momento, a cada dia surgem movimentos vindos do Norte para implantarem
novos modelos de crescimento. Em alguns movimentos eclesiásticos a teologia da
Missão Integral, o pastorado de visitação e aconselhamento estão sendo
extremamente ridicularizados e menosprezados como algo estranho e sem valor,
pois esses trabalhos não produzem números e status para a igreja local.
Os líderes da atualidade não se
preocupam mais com a edificação e a qualidade da igreja local, pois seus sonhos
estão em mega-igrejas e lindos templos; o desejo único em seus corações é
crescimento a todo custo, a frase favorita é: “precisamos preparar a igreja para crescer”.
É impressionante como os líderes
cristãos estão se parecendo mais com os homens de negócios do que com homens
santos, piedosos e compromissados com Deus. Uma pessoa não cristã expressou
essa percepção, relatando: “porque será que tenho a impressão que quando estou
sentado ao lado de um Monge parece que estou ao lado de um santo e, quando
estou ao lado de um Pastor parece-me que estou ao lado de um homem de
negócios”. Essa impressão não é nada irreal, pois há hoje em dia pastores que
passam a maior parte do tempo com assuntos administrativos e burocráticos,
alguns nem conhecem mais seu rebanho e as dificuldades que enfrentam.
A idéia de ir ao encontro da
ovelha parece absurda, as ovelhas é que precisam correr atrás do pastor e
marcar horário, se o mesmo encontrar um espaço na agenda, tudo bem, se não a
ovelha precisa esperar ou procurar outro pastor que esteja desocupado.
“Pastores muito ocupados não tem tempo para suas ovelhas e nem para cuidar do
rebanho do Senhor”.
Se os pregadores estão motivados
com essa mentalidade suas pregações são preparadas com idéias do mesmo tipo, a
leitura bíblica não é feita com o propósito de saber a vontade de Deus e
alimentar o rebanho, mas é feita para conseguir resultados em seus
empreendimentos “cristãos”. Seus métodos de pregações servem aos desejos do
público e caminham em direção ao que dá certo; como afirma John MacArthur:
“Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos
programas e métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de
opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios
pragmáticos” (MACARTHUR, 2007, p.6).
Há algum tempo atrás um pastor,
professor de homilética em uma missão quando perguntaram se ele ensinava o
método expositivo à resposta foi: “ensino
um pouco de tudo, pois as coisas estão mudadas”.
A resposta tem em si uma verdade
pedagógica que deve ser analisada, mas o significado por trás dessas palavras
ilustra a idéia de nossos pregadores contemporâneos, a pregação tem que ser uma
espécie de “fast food” e precisa estar de acordo com o planejamento, se o
objetivo é crescer ou construir todos os esforços na pregação serão dirigidos a
isso. Na linguagem desses pregadores contemporâneos se alguém quiser alcançar
as pessoas será necessário usar métodos que satisfaçam e agradam os ouvintes.
Para exemplificar a influência do
movimento de crescimento da igreja sobre a realidade das igrejas locais e dos
ministros do evangelho basta lembrar, que o Presbítero que era o nome bíblico
do oficial responsável pelo governo da igreja tem sido substituído por gestor
ou grupo de gestores. Essa é uma forma pragmática de administração, pois os
gestores são os responsáveis pelo planejamento e por fazer a igreja crescer.
Assim acontece com os movimentos
de crescimento de igreja que tem formado a mentalidade dos pregadores
contemporâneos e vem dominando muitas igrejas locais ao redor do mundo e
particularmente no contexto brasileiro.
No livro Religião de Poder,
quando Alister McGrath argumenta sobre o culto da personalidade ele faz uma
leitura da realidade muito apropriada afirmando:
“O surgimento do teleevangelismo e ministérios de
pregação tem levado a um culto crescente de personalidades dentro do evangelismo
de poder. Isso é verdade não apenas nos ministérios de mídia como também nas
apresentações que celebridades cristãs fazem regularmente em eventos e
megaigrejas. Não é o que as Escrituras ensinam que realmente importa; mas o que
fulano de tal tem a testemunhar comigo sobre suas experiências e idéias. Até
mesmo para alguns pastores, não é o que dizem as Escrituras, mas o que o
pregador disse que dizem as Escrituras, que tem verdadeira importância. Muitas
vezes a Bíblia é totalmente ignorada; o que vale é o que Deus está dizendo
agora pessoalmente a esse pregador...” (HORTON, 1998, p. 249).
Quantos pregadores estão sendo
influenciados em cursos de liderança secular e aprendendo uma espécie de
oratória que mexe com as emoções do público e métodos de persuasão e controle.
Hoje é muito comum líderes que conhecem mais sobre neurolinguística, psicanálise
e outras coisas do gênero do que conhecem a Escritura e a Teologia Cristã,
infelizmente essa é a realidade de muitas igrejas e líderes cristãos.[2]
Uma afirmação bastante coerente
sobre pregação contemporânea é feita por John Macarthur Jr, em seu livro diz:
“Se a pregação deve desempenhar o papel designado por
Deus na igreja, então ela deve ser edificada sobre a Palavra de Deus. Em anos
passados, tal declaração teria sido óbvia, até axiomática... Infelizmente, isso
já não ocorre, mesmo em igrejas evangélicas. Muitas pregações hoje destacam a
psicologia, o comentário social e a retórica política. A que busca a”
Relevância “... Lamentavelmente, percebe-se uma tendência no meio evangélico
contemporâneo: a distancia da pregação bíblica e a retomada no púlpito de uma
abordagem pragmática, tópica, centrada na experiência” (JR, 2004, p. 264).
A pregação contemporânea é
caracterizada pela superficialidade e jogos de interesses, os modernos métodos
de administração eclesiástica e os grandes empreendimentos religiosos roubaram
o tempo de pastores e pregadores. O pregador gasta mais tempo no computador ou
administrando as finanças e problemas da igreja do que com a palavra de Deus e
a oração.
Essas atitudes têm dominado
aqueles que são chamados para serem ministros da Palavra e tudo que se ouve em
nossos púlpitos são resultados do dia a dia desses pregadores e não a genuína
palavra de Deus como revelada nas Escrituras, essa é entendida pelo pregador no
quarto da oração em secreto com Deus e no púlpito transborda do coração do
pregador ao rebanho sedento e necessitado do alimento celestial; a palavra de
Deus que edifica o cristão e salva o perdido.
Precisamos urgentemente restaurar
o método expositivo na pregação contemporânea, os pregadores cristãos
evangélicos precisam voltar à palavra de Deus, investir tempo em seus estudos e
orações. A única maneira de edificar a igreja local e conduzir o rebanho ao
conhecimento de Deus é levando os pregadores à Palavra e ensiná-los a expor os
desígnios de Deus criando pontes para o mundo contemporâneo, com fidelidade e
amor à Palavra.
A pregação expositiva
contemporânea deve ser uma pregação centrada na Escritura, pois, segundo Jesus
Cristo somente pelas Escrituras o conheceremos verdadeiramente, assim o Mestre
orienta: “Examinais as Escrituras, porque
julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim (João
5:39 – ARA)”. A pregação é bíblica e cristocêntrica quando as verdades de
Deus e de Cristo é pregada conforme revelada nas Escrituras.
Também a pregação não pode ser
uma exposição morta baseada em uma tradição religiosa ultrapassada e sem
sentido, apenas para se defender uma postura denominacional. Mas deve ser
relevante para o dia a dia das pessoas ao qual Deus está falando e interessado
em edificar e transformar.
Uma proposta recente para a
pregação expositiva contemporânea é a pregação expositiva temática, onde o
pregador extrai do texto seu tema e expõe esse tema à luz do seu contexto,
criando pontes de aplicação ao ouvinte. A pregação expositiva temática tem a
preocupação com a verdade do Evangelho e com a necessidade do povo de Deus; ela
se torna bíblica e relevante sem negociar a essência da revelação de Deus.
O problema não está na pregação
contemporânea em si, mas nos métodos usados e na maneira como a palavra de Deus
é negociada tanto nos métodos como nas novas estruturas eclesiásticas.
A pregação expositiva e a palavra de Deus
A pregação expositiva como já foi
visto se propõe a explicar e aplicar o texto bíblico de forma íntegra e
autêntica, recebendo assim o título de pregação bíblica.
Com essa definição podemos
meditar sobre qual é a relação desse método com a palavra de Deus (Bíblia),
quero esclarecer, mesmo que seja possível deduzir do texto acima.
O Senhor Jesus quando expunha um texto fazia-o como se sua
exposição fosse a própria palavra de Deus, todo seu ministério foi o ministério
da Palavra.
Lucas registra uma de suas exposições, onde Jesus faz
uma exposição do livro de Isaías:
“Ele foi a Nazaré,
onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu
costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías.
Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:” O Espírito do Senhor está sobre
mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para
proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar
os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro,
devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos
nele...”(Lc 4:16-20-NVI).
Segundo o costume judaico lê-se
uma porção da Escritura, explica e aplica a porção, foi isso que Jesus fez. A
diferença de aplicação no caso de Jesus em relação ao texto profético se deu no
fato da profecia se aplicar a Ele mesmo, pois segundo o relato bíblico o
cumprimento profético estava sendo realizado naquele exato momento e na vida de
Jesus como o Cristo.
Depois de sua morte Jesus
continua ministrando e faz uma exposição mais longa para provar sua
Messianidade, seu método agora é de expor os livros da Escritura, explicá-los e
aplicar aos acontecimentos atuais, essa exposição de Jesus está registrada no
Evangelho de Lucas 24: 44-47.
Os Apóstolos deram continuidade a
esse método deixando claro que a exposição fiel da palavra de Deus é a palavra
de Deus proclamada, isso pode ser deduzido de textos como em Atos dos Apóstolos
2:14-36 e 7:1-53. Toda pregação
dirigida pelos Apóstolos e discípulos eram exposições das Escrituras, toda
estrutura do discurso era tirada das Escrituras e apresentadas com aplicação
direta aos seus ouvintes, eles cumpriam suas responsabilidades como verdadeiros
dispenseiros.
Os reformadores foram os homens
que mais elaboraram conceitos profundos sobre a palavra de Deus. Sempre quando
alguém escreve ou fala de pregação esse não pode deixar de lado uma das
afirmações teológicas mais importantes para reforma protestante e
posteriormente para a elaboração da teologia reformada, a Sola Scriptura – a
supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos.
Para os reformadores a pregação
da Palavra era o próprio Deus falando. Praticamente todos os reformadores
pregaram os livros da Bíblia, alguns demoravam anos pregando toda a Bíblia ou
expondo um determinado livro, basta ler os comentários de João Calvino (1997,
p. 24) para entender que este reformador era um expositor e exegeta por
excelência: “A nossa única necessidade é
a de não ter em vista nenhum outro objetivo além do desejo sincero de só fazer
o bem. Assim devemos também proceder no tocante à exposição da Escritura”.
Em seu livro Creio na Pregação no
capítulo um, John Stott (2003, p. 15) faz um esboço histórico sobre a pregação
mostrando que todos os homens poderosos nas mãos de Deus foram homens que
acreditavam que Deus agia através da pregação e que esses homens quando
pregavam estavam anunciando a palavra de Deus e unicamente isso.
O Rev. Hernandes Dias Lopes
falando sobre o pensamento de Calvino sobre a pregação declara:
“Calvino entendia a pregação como a vontade de Deus
para a igreja, um sacramento da sua presença salvadora e um trabalho tanto
humano como divino. A Palavra de Deus pregada é o cetro pelo qual Cristo
estabelece continuamente seu domínio ímpar e espiritual sobre a mente e o
coração do seu povo. O púlpito é o trono de Deus, do qual ele quer governar
nossas almas” (Lopes, 2004, p.50).
A pregação expositiva é Deus
falando através das Escrituras, usando os homens para cumprir seus propósitos
de resgatar as ovelhas perdidas e edificar sua igreja, a fim de apresentá-la
perfeita e transformada.
Essa pequena argumentação sobre
pregação e palavra é um pouco perigosa, hoje há muitos falsos mestres que se
dizendo pregadores da Palavra usurpam a autoridade divina, dizem que são
inspirados por Deus e uns poucos até afirmam serem “apóstolos” e que suas
igrejas são a continuação do livro de Atos.
Os textos bíblicos sobre pregação
deixam claro que a pregação é a palavra de Deus, somente quando ela é bíblica e
expõe fielmente o texto. Quando falamos bíblica queremos dizer que todo seu
conteúdo e contextos são extraídos diretamente do texto. Paulo inspirado pelo
Espírito Santo escreve para Timóteo, dizendo: “pregue a palavra...(2Tm 4:2-NVI)".
A ordem de Paulo não é para que
ele usasse a palavra de Deus para comprovar suas idéias ou formular uma pregação
temática com versos isolados fora de contexto. Paulo está tendo em vista o que
tinha dito anteriormente na carta ao escrever no terceiro capítulo, que: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil...” (2Tm 3:16 -NVI), a palavra que deve ser pregada
é a de Deus e, dentro de seu contexto histórico-gramatical e de seu propósito
para o qual foi revelada, principalmente na encarnação.
A pregação expositiva leva o
pregador a se fixar no texto e no propósito de Deus evitando que o mesmo tire
suas próprias conclusões, ou viaje para uma direção sem volta, deixando de lado
o que Deus quer falar.
O Rev. Hernandes Dias Lopes
(2004, p. 46) faz uma afirmação sobre o pensamento de Lutero em relação à
pregação e palavra de Deus:
“Martinho Lutero cria que a pregação era o meio de
salvação, por não ser uma simples atividade humana, mas a própria Palavra de
Deus proclamando a si mesma mediante o pregador”.
O pregador é apenas canal, vaso e
arauto. O Rev.John Stott (2005, p. 12) trabalha muito bem o texto de Pedro para
deixar claro que a responsabilidade do pregador é expor e fazer sua exposição
ser a própria Palavra:
“... sua tarefa é expor a revelação que já foi
definitivamente dada. E embora pregue no poder do Espírito Santo, ele não é
inspirado pelo Espírito no sentido em que os profetas o foram. Certo, se alguém
fala, deve falar de acordo com os oráculos de Deus, ou como se pronunciasse
palavras de Deus” (1Pe 4:11).
Conclusão:
A pregação expositiva é sem
dúvida o melhor método para a edificação da Igreja de Deus, a Bíblia continua
sendo a voz de Deus aos homens para libertar, transformar e conduzí-los à vida
eterna.
A Palavra nos fornece todas as
técnicas de crescimento e princípios de liderança que precisamos, o homem de
Deus não precisa correr atrás de recursos seculares ou informações empresariais
para edificar a igreja local, o mesmo Senhor que a fundou é que cuida de sua
igreja e a edifica por meio de sua presença no Espírito Santo que fala na
Escritura.
O que a liderança atual precisa
na verdade é “pregar a Palavra”, retornar a verdadeira pregação e amor por essa
Palavra que é viva e eficaz, espírito e vida.
[1] Precisamos ser honestos em dizer que nem todos os textos fornecem essas
facilidades, alguns textos são mais bem explicados se forem usados outros
métodos, mas mesmo assim o pregador não tem o direito de usar o texto como quer. Sempre é necessário uma
interpretação e uma aplicação correta e digna do próprio texto. O Pregador não pode esquecer que está diante
da palavra de Deus e que ele como um arauto é servo da Palavra.
[2] Essas áreas tem seu valor e importância, mas muitos têm usado essas ferramentas
para intimidar e
persuadir as
pessoas para que acreditem sem questionar em suas idéias e pregações.
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