5 de setembro de 2012

Sou apóstolo! E daí!


Introdução:   
Quando ligamos o rádio e televisão em nossos dias pode-se ver um movimento que surgiu recentemente e cresce a cada dia. O movimento é conhecido como “Movimento Apostólico”.
A idéia desse movimento é de resgatar o ofício Apostólico como era praticado na Igreja Primitiva, ouve-se da necessidade de resgatar o dom descrito em Efésios 4.11. Já ouvi e participei de um congresso, onde os argumentos eram lançados e, com muito entusiasmo as pessoas estão reconhecendo essa restauração como algo possível.
É claro que a tentativa de argumentar bíblicamente cai por terra sem muito esforço, mas quando são questionados sobre seus fundamentos sentem a necessidade de abrir mão da Bíblia e partir para a experiência. A partir de então os argumentos são baseados em novas revelações do Espírito, os sinais que os acompanham e a autoridade como anjo da igreja.
Um certo dia em um programa de televisão, um desses líderes famosos, depois de questionado se cumpria os critérios Bíblicos para ter sido ordenado Apóstolo, ele respondeu: “Eu vi Jesus Cristo ressuscitado”. A idéia era demonstrar que seu chamado era semelhante de Paulo e não seguiu os padrões estabelecidos pela Igreja de Jerusalém (At 1).

Após várias conversas com amigos sobre isso, resolvi escrever um pouco. Tenho percebido muitas dúvidas e alguns amigos aderindo a esse movimento estranho e sem fundamento na Bíblia.

A Bíblia é muito clara e objetiva quando trata do ofício dos Apóstolos. O ministério desses irmãos foi fundamental para a existência e bases da Igreja de Deus. Por isso aqueles que foram chamados pessoalmente por Jesus tinham que:

1. Ter andado com Jesus desde o batismo – At 1.22.
O texto acima em Atos não é simplesmente narrativa, mas a Igreja reunida sob a autoridade dos Apóstolos e sendo moderada por Pedro, definiu os critérios em oração e como o texto revela foi aprovado por Deus, quando Ele escolhe Matias como resposta da oração de toda a Igreja.

2. Ser testemunhos do ministério e ressurreição de Cristo - At 1.21,22.
Um Apóstolo de ofício e legítimo é testemunha ocular do Jesus Ressurreto, ter ouvido e visto pessoalmente o Senhor sempre foi um requisito estabelecido na Igreja para a ordenação ao Apostolado. A base para a autoridade da Escritura do Novo Testamento está caracterizada pelo “ouvimos e vimos”, a Igreja pós-apostólica fundamenta sua pregação sobre essa revelação, pois aquilo que ouviram e viram está escrito e isso para nosso ensino.

3. Ser escolhido por uma manifestação sobrenatural - At 1.23-26, 9.3; 1 Co 15.3-8.
Os textos revelam a escolha pessoal de Jesus em vida ou se revelando. É necessário a autoridade apostólica ter visto o Cristo ressurreto e ser chamado sobrenaturalmente.

4. Realizar sinais e prodígios como testemunho do chamado - At 15.12; Rm 15.19; 2Cor 12.12.
As manifestações sobrenaturais eram sinais de confirmação da autoridade constituída por Deus, os milagres atestavam a veracidade ministerial. Através de uma leitura simples da Bíblia, percebe-se que fora o colegiado dos 12, essa veracidade acontece na pregação da Palavra e não em manifestações poderosas.

5. Transmitir a verdade oral e canônica de Cristo conhecida como doutrina dos Apóstolos - At 2.42; 1Cor 15.3.

6. Experimentar sofrimento e perseguição pela causa de Cristo - 1Cor 4.9.
Os doze como testemunhas oculares e inspirados para a produção da Escritura Neotestamentária tiveram que sofrer as piores adversidades que se possa imaginar. Pagaram verdadeiramente o preço para a expansão da Igreja e o anúncio do Evangelho ao mundo.
Vê-se claramente uma contradição ao apostolado moderno, enquanto os onze são lançados em meio a lobos, feras e falsos líderes e Paulo é chamado para sofrer entre os gentios, os apóstolos atuais pregam contra o sofrimento por amor a Cristo e lutam por prosperidade financeira.

7. Ser parte da edificação da Igreja de Deus - Ef 2.20.
Os 12 eram parte integrante da fundação da Igreja, a revelação se tornaria o meio pelo qual Deus revelaria Jesus e Sua obra ao mundo, bem como orientaria a Igreja em sua Missão e Ministério.
Através de uma reflexão sincera e íntegra com o texto sagrado, percebe-se que o ofício apostólico não é permanente, portanto não tem sucessão apostólica no sentido de oficio (1Co 3.11; Ef 2.20). Os critérios, bem como as exigências do Nosso Senhor não podem ser aplicadas a nenhum indivíduo em nossos dias. Os Apóstolos de Jesus Cristo ou Apóstolos do Cordeiro são somente os doze, como nos afirma Jesus em Apocalipse 21.14.

E agora? Como fica o Apóstolo Paulo?
Com certeza se nosso irmão Paulo fosse vivo, poderíamos dizer que ele é o “cara”. Não porque tenha sido grande, mas porque anda na contramão desse movimento moderno.
Com certeza Paulo é um verdadeiro Apóstolo da Igreja, mas vamos olhar sua declaração em defesa ministerial.
“... depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo. Pois sou o menor dos apóstolos e nem sequer mereço ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus”. 1Cor 15.8,9.

Algumas considerações importantes:
1. Paulo assumiu como sendo a única excessão, e por essas razões do texto não se tornou um dos doze, pois nasceu fora de tempo. Aprouve a Deus chamar o Apóstolo depois, e o próprio Jesus revela o motivo, ou seja, chegou a hora dos gentios serem enxertados em Israel e Paulo seria o Apóstolo entre os gentios – Rm 11.13.
Como Apóstolo é responsável por implantar igrejas e anunciar o evangelho aos povos não alcançados – Rm 15.20.

2. Paulo não se ordena ao Ministério Sagrado ou convida algum amigo a fazê-lo.
a) Quando é chamado por Jesus, testemunha sua vocação com evidências plausíveis – Gl 1.11-17.
b) Teve um período no deserto, sem ser apresentado como Apóstolo.
c) Quando retorna vai a Pedro e Tiago, depois de quatorze anos retorna outra vez. Encontra-se com Pedro, Tiago e João. Paulo reconhece os três como colunas da Igreja, e são eles que reconhecem o chamado de Paulo – Gl 2;
Obs: Alguns argumentam o Apostolado de Barnabé, mas se lermos com atenção, aqui Paulo diz que eles reconhecem a graça que somente ele recebeu – Gl 2.9. É possível entender que não houve reconhecimento para um apostolado de Barnabé.
d) Como ordenado e cumprindo alguns requisitos, tinha autoridade na igreja e reclamou obediência - Rm 1.5; 1 Cor 9.1; 2Co 2.9.

3. Bom! Barnabé tudo bem, mas e os outros?
“ Saúdem Andrônico e Júnias, meus parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim”. Rm 16.7.

Já ouvi alguém usando esse texto para provar que haviam outros Apóstolos entre eles. Diante de todo o contexto bíblico e evidências acima a única possibilidade aqui é que esses irmãos andavam com os Apóstolos.
Muitos andavam com Jesus, entre os discípulos e nem por isso podemos dizer que eram Jesus ou discípulos. Em nossas reuniões de pastores há muitos entre nós que são missionários, diáconos, cozinheiros, amigos, não são pastores por isso!

4. Puxa! Esqueci de Epafrodito!
“ Contudo, penso que será necessário enviar-lhes de volta Epafrodito, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas, mensageiro que vocês enviaram para atender às minhas necessidades”. Fp 2.25

No texto acima Epafrodito é chamado Apóstolo. A palavra que é traduzida por mensageiro vem da palavra apostolon, apóstolo. A tradução está adequada, com certeza!
No caso de Epafrodito, bem como de Barnabé a palavra apóstolo é usada no sentido simples. Sempre que é usada para alguém que não pertence ao grupo dos doze + Paulo, é usada para designar uma Missão.
Tanto Barnabé, como Epafrodito foram enviados para uma obra específica, assim se aplica essa palavra, portanto não tem nada haver com ofício e autoridade da Igreja.

Conclusão:
Minha conclusão é que não há respaldo Bíblico para um resgate do dom apostólico e nem mesmo para uma sucessão através do episcopalismo, seja Romano ou Protestante.
A sucessão apostólica deveria ser caracterizada unicamente pela Igreja, quando a mesma cumpre sua missão e persevera na doutrina recebida por aqueles que andaram com Jesus e receberam inspiração do Espírito.
O ministério apostólico em seu aspecto comunitário ou universal envolve todos aqueles que pertencem ao corpo de Cristo, a Igreja é Apostólica.
O ministério apostólico hoje é muito usado para promover status em alguns homens em destaque, esses para se diferenciar dos demais reclamam para si esse título, mas sem cumprir os requisitos necessários, pois para ser apóstolo seria necessário ter andado com o Cristo encarnado e hoje os apóstolos nem ao menos desenvolvem um ministério transcultural, veja se existe algum apóstolo moderno no meio de um povo não alcançado e se ao menos já foi pioneiro em alguma etnia. Os apóstolos de hoje gostam de carros do ano, apartamentos em Miami, congressos, política partidária, etc.

Obs: O que temos é uma auto-ordenação, talvez o texto que mais se aplique a isso seja Apocalipse 2.2.
Tentei ao máximo fazer uma exposição do ensino Bíblico, talvez alguns possam discordar de minhas opiniões, mas espero que a palavra de Deus aqui seja a autoridade como nossa regra de fé.
Também fico tranqüilo de saber que após reflexões por alguns anos, a grande maioria dos evangélicos conservadores concordariam com meu entendimento Bíblico.
Se de alguma forma fui influenciado pelo pensamento reformado, e talvez seja mesmo, foi tudo conscientemente e sempre minhas decisões teológicas tem como princípio, o partir das Escrituras. Ainda acredito que a Bíblia seja suficiente para a Igreja e minha vida cristã e espero permanecer assim.

Que possamos retornar a simplicidade das Escrituras e ouvir os Santos Profetas do A.T e Apóstolos do N.T que foram levantados na Igreja para nos trazer a revelação de Deus – Efésios 4.11.

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