Introdução:
“Tende em vós o mesmo sentimento que
houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de
servo...” Fp 2.5-7
O objetivo deste artigo é cooperar com a
reflexão que vem sendo desenvolvida no movimento missionário brasileiro sobre o
preparo e cuidado do missionário.
A Igreja Brasileira tem passado por um
período muito sensívelr no que tange a esse assunto; ao mesmo tempo em que as
informações e desafios inundam as igrejas locais, a quantidade de obreiros no
campo vem diminuindo consideravelmente. Ouvi recentemente de uma importante
Missão do Brasil que perdeu quase a metade de seus obreiros e de outras que
relatam um retorno crescente de obreiros com problemas emocionais e de
relacionamentos. Ainda ouço casos de irmãos que deixam o cristianismo e são “convertidos”
à outras religiões, irmãos que se revoltam com agências e se tornam frustrados
com Missões.
Refletindo sobre essas necessidades, me
pergunto: diminuiu o interesse por missões ou o trabalho tem sido feito com
mais responsabilidade? Não seria o tempo das igrejas e agências em geral
refletirem sobre suas ações? (sem dúvida ainda há muito paternalismo na obra
missionária, algumas igrejas não querem responsabilidade e agências têm um controle
enorme sobre a vida dos missionários, e ainda há casos de muito pragmatismo - “Vamos
enviar 100, 300 Missionários, etc”).
Talvez essas coisas aconteçam devido a
muitos problemas com missionários mal preparados e a irresponsabilidade de
alguns que se preocupam somente com a quantidade e não a qualidade. É evidente
que tudo isso gera mudança no quadro missionário brasileiro. Também suspeito
que muitos males aconteçam pelo senso de emergência, esta criada por uma
compreensão teológica pobre ou interesses pessoais.
Vejo essas mudanças como algo positivo,
pois percebo menos saída, porém os que saem ao campo porque decidiram se
preparar melhor, produzem mais frutos em mais tempo se doando ao campo.
Com o propósito de auxiliar aqueles que
desejam sair e animar e fortalecer aqueles que já estão no campo, quero
escrever alguns conselhos práticos e tentar motivar os corações vocacionados um
desejo de serem bons missionários ou como diz à Escritura: “bons dispenseiros”,
isso para a Glória de Deus – 1Cor 10.31.
Através de conversas, visitas e breves
pesquisas, tenho percebido algumas características que revelam um bom missionário,
seja no campo transcultural, como no urbano. Digo bom não para exaltar ou
desvalorizar alguém, mas para honrar aquele irmão(a) que foi vocacionado ao
sagrado ministério e tem sido levado pelo Espírito a campos de ação missionária.
Além de ser vocacionado, internamente e externamente, a pessoa se dedica à
comunicação do Evangelho com fidelidade e relevância e, ainda busca desenvolver
um bom relacionamento com a igreja, agência, povo alvo e equipe de trabalho.
Desejo compartilhar algumas
características de um bom missionário, sabendo que serei devedor de outras
informações e posso ser até simplista para alguns, mas acredito que para este
artigo é o suficiente e o mesmo pode contribuir para a reflexão de irmãos que
tem se dedicado a busca da excelência e da Glória de Deus. Sou consciente que
desagradarei a outros e alguns mais próximos podem até se sentir ofendidos, mas
aguardo uma resposta de amor e misericórdia destes e de gratidão daqueles.
1.
O
bom missionário é alguém de oração e servo da Palavra.
a) Seu
maior desejo é a comunhão com o Senhor e Soberano da Missão.
b) Sua
principal visão é buscar ao Senhor e comunicar o Evangelho.
c) Seu
principal compromisso na agenda é devocional, disso vem à direção de Deus para
o trabalho e desafios do campo.
d) O
relacionamento com Deus fortalece a vocação e confirma os passos.
2.
O
bom missionário ama os perdidos.
a) Você
já ouviu de missionários que não saem de casa porque não gostam do povo?
Existe! E esse deveria sentir profunda vergonha e temor do Senhor da seara.
b) Irmãos
que freqüentam somente supermercados de estrangeiros?
c) Não
há missões sem encarnação, amor e dedicação às pessoas.
d) É
o amor que leva o obreiro a se encarnar na vida do povo e o conduz a uma vida
simples. O obreiro se ajusta ao estilo de vida local e não impõe o seu!
e) O
amor leva o obreiro às casas, aldeias e ao convívio social com o povo, seguindo
Jesus – Mt 9.35.
f) Sem
amor não há entrega, socialização e nem comunicação do Evangelho.
3.
O
bom missionário se contextualiza.
a) Como alguém pode comunicar um Evangelho
supracultural sem compreender a cosmovisão do povo? Sem contextualização há
problema!
b) O
missionário se disciplina no aprendizado da língua. Deus fala ao coração e com
a língua do coração! Essa tarefa é essencial e inegociável, irmão aprenda a
língua! Os primeiros anos devem ser dedicados ao estudo da língua, não se deixe
levar pela necessidade e nem pela cultura do relatório. O obreiro que não fala
bem a língua do povo, após um período será ridicularizado e rejeitado por eles,
é normal até entre nós! Também não esqueça, você não é antropólogo, mas
missionário, sua missão é pregar o Evangelho. É importante lembrar, pois o
vocacionado pode ficar deslumbrado com as pesquisas e métodos e até mesmo esquecer
da missão, deixando de lado a prioridade do reino de Deus.
c) Uma
boa contextualização acontece com a observação, dê atenção à cultura e costumes
diários do povo. Observe, observe e observe! Há situações que podem afastar as
pessoas de você e travar tanto relacionamento como a comunicação.
d) Atenção: O
missionário que não respeita o tempo de adaptação e aprendizado logo trará
problemas, tanto para o trabalho, bem como para sua vida espiritual e
emocional. Há campos em que a cultura é muito opressiva e a carga emocional é
muito grande, o tempo de preparo na adaptação o ajudará a superar essas
dificuldades.
4.
O
bom missionário é servo.
a) O
obreiro em missões deve refletir o caráter de Cristo. Ele vem ao campo para
servir e não ser servido.
b) É
alguém disposto ao trabalho, simples no viver e aberto para as necessidades do
campo.
c) O
missionário não é Rei, somente serve, sem méritos ou status quo.
d) O
servo de Deus é humilde, íntegro e honesto em tudo que faz. Não perfeito, mas
servo!
5.
O
bom missionário se comunica.
a) O
missionário precisa se comunicar bem, as intercessões e suprimentos dependem da
comunicação do obreiro. Uma boa comunicação gera interesse e harmonia a todos
que estão do outro lado, seja como parentes, amigos, mantenedores ou líderes.
b) Para
que ocorra uma comunicação atraente e responsável o irmão(a) precisa investir
tempo e paciência na preparação de informes, documentos e relatórios. Erros de
português, formatação e o uso de palavras impróprias podem revelar desleixo e
até mesmo problemas de personalidade e emocionais.
c) A clareza: Busque
ser claro e de atenção aos detalhes, você não escreve para si mesmo, mas para
receptores de diversos níveis e tradições.
Olhe
com cuidado a pontuação, palavras e formatação. Isso anima o leitor ou o faz
deixar
o texto no primeiro parágrafo.
d) A Responsabilidade:
É parte de um trabalho transparente e compromissado o envio de cartas,
relatórios, motivos de oração e idoneidade na comunicação com igreja e agência.
Se o obreiro é ligado a alguma organização é importante comunicar todos os
passos, isso por questão de ordem, submissão e consciência cristã. Não consigo
ver nas Escrituras serviço autônomo no Reino, ainda que grupos separatistas defendam
essa idéia, sinceramente não vejo essa realidade na vida de Jesus, dos
Apóstolos e nem das Igrejas de Deus. Todos prestavam contas de seus atos como
obreiros da Igreja e quando possível traziam seus relatórios a toda igreja e
líderes gerais. Tenho uma impressão, posso estar errado, de que alguns obreiros
brasileiros têm muita dificuldade com submissão e prestação de contas, até
mesmo de trabalho em equipes por estas questões.
e) O Respeito:
Quero relatar o que ouvi recentemente de um Pastor amigo: “Os missionários não
sabem se comunicar mesmo, às vezes não agüento ler as cartas. Desejo receber
informações do trabalho e do campo, mas muitas vezes o que leio são exortações
e repreensões”.
Tenha
respeito com os leitores, seja cordial, educado e use palavras brandas. Aquele
que
lê é seu parceiro e intercessor.
Obs:
Não esqueça diante de uma discussão ou decisão de líderes que, e-mail é um
recurso
indispensável e abençoador, porém é frio e formal. Quando você lê não está
olhando
a expressão do outro, deixe de lado a interpretação nas entre linhas, isso é
traiçoeiro.
Trate as questões com cordialidade, brandura, sobriedade e sabedoria –
qualidades cristãs.
6.
O
bom missionário é vigilante.
a) Jesus
disse: “Orai e vigiai”
b) Cuidado
com o Sr. Imediatismo, tenha paciência e faça aquilo que é correto e coerente.
c) Cuidado
com a Sra. Beleza ou Sr. Belo, principalmente o solteiro. Atenção, depois de
algum tempo todos serão belos e atraentes, não perca de vista o alvo e sua
vocação. Aos casados, digo não eu, mas o Senhor: mantenha seu leito sem mácula!
d) Cuidado
com a Sra. Ansiedade, irmão(a) você não é o “Salvador da pátria”, se prepare,
aprenda a discernir o tempo e faça aquilo que é preciso. Não confie em seu
coração! Busque equilíbrio entre razão e emoção, assim compreenda a vontade de
Deus, com certeza você não é o mais interessado no campo. Deus é Senhor e tem
propósitos definidos.
Percebo que alguns espiritualizam
as situações, aquilo que acham ou dizem que é Deus na verdade é fruto de um
coração ansioso.
É
muito fácil e justificável dizer: “Deus falou; Deus quer isso; É de Deus tal
coisa;
etc”.
A espiritualização tem causado danos terríveis.
Não quero dizer que não acredito na
condução de Deus, longe de mim isso, mas falo sobre o cuidado que as pessoas devem
ter com o evangeliquês e todo esse processo de manipulação que o coração cria.
Acima de tudo “O Espírito fala pela Palavra”!
e) Cuidado
com o Sr. Sustento, o missionário também é mordomo e os recursos de Deus são
para seu bem estar e desenvolvimento da obra. O sustento não pode ser um meio
de condenação ao missionário, mas deve ser para a Glória de Deus.
f) Cuidado
com a Sra. Glória, essa senhora tem derrubado muitas pessoas, nunca deixe de
rever seus atos e palavras. Se dobre diante da orientação bíblica que diz: “...
fazei tudo para a Glória de Deus” 1Cor 10.31.
Conclusão:
“A solução
destes problemas é enviar missionários com maior preparo e sensibilidade
cultural” Bruce Nicholls
Nenhum comentário:
Postar um comentário