5 de julho de 2013

Aos Missionários

Introdução:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo...” Fp 2.5-7

O objetivo deste artigo é cooperar com a reflexão que vem sendo desenvolvida no movimento missionário brasileiro sobre o preparo e cuidado do missionário.
A Igreja Brasileira tem passado por um período muito sensívelr no que tange a esse assunto; ao mesmo tempo em que as informações e desafios inundam as igrejas locais, a quantidade de obreiros no campo vem diminuindo consideravelmente. Ouvi recentemente de uma importante Missão do Brasil que perdeu quase a metade de seus obreiros e de outras que relatam um retorno crescente de obreiros com problemas emocionais e de relacionamentos. Ainda ouço casos de irmãos que deixam o cristianismo e são “convertidos” à outras religiões, irmãos que se revoltam com agências e se tornam frustrados com Missões.
Refletindo sobre essas necessidades, me pergunto: diminuiu o interesse por missões ou o trabalho tem sido feito com mais responsabilidade? Não seria o tempo das igrejas e agências em geral refletirem sobre suas ações? (sem dúvida ainda há muito paternalismo na obra missionária, algumas igrejas não querem responsabilidade e agências têm um controle enorme sobre a vida dos missionários, e ainda há casos de muito pragmatismo - “Vamos enviar 100, 300 Missionários, etc”).
Talvez essas coisas aconteçam devido a muitos problemas com missionários mal preparados e a irresponsabilidade de alguns que se preocupam somente com a quantidade e não a qualidade. É evidente que tudo isso gera mudança no quadro missionário brasileiro. Também suspeito que muitos males aconteçam pelo senso de emergência, esta criada por uma compreensão teológica pobre ou interesses pessoais.
Vejo essas mudanças como algo positivo, pois percebo menos saída, porém os que saem ao campo porque decidiram se preparar melhor, produzem mais frutos em mais tempo se doando ao campo.
Com o propósito de auxiliar aqueles que desejam sair e animar e fortalecer aqueles que já estão no campo, quero escrever alguns conselhos práticos e tentar motivar os corações vocacionados um desejo de serem bons missionários ou como diz à Escritura: “bons dispenseiros”, isso para a Glória de Deus – 1Cor 10.31.
Através de conversas, visitas e breves pesquisas, tenho percebido algumas características que revelam um bom missionário, seja no campo transcultural, como no urbano. Digo bom não para exaltar ou desvalorizar alguém, mas para honrar aquele irmão(a) que foi vocacionado ao sagrado ministério e tem sido levado pelo Espírito a campos de ação missionária. Além de ser vocacionado, internamente e externamente, a pessoa se dedica à comunicação do Evangelho com fidelidade e relevância e, ainda busca desenvolver um bom relacionamento com a igreja, agência, povo alvo e equipe de trabalho.
Desejo compartilhar algumas características de um bom missionário, sabendo que serei devedor de outras informações e posso ser até simplista para alguns, mas acredito que para este artigo é o suficiente e o mesmo pode contribuir para a reflexão de irmãos que tem se dedicado a busca da excelência e da Glória de Deus. Sou consciente que desagradarei a outros e alguns mais próximos podem até se sentir ofendidos, mas aguardo uma resposta de amor e misericórdia destes e de gratidão daqueles.
1.      O bom missionário é alguém de oração e servo da Palavra.
a)      Seu maior desejo é a comunhão com o Senhor e Soberano da Missão.
b)      Sua principal visão é buscar ao Senhor e comunicar o Evangelho.
c)   Seu principal compromisso na agenda é devocional, disso vem à direção de Deus para o trabalho e desafios do campo.
d)     O relacionamento com Deus fortalece a vocação e confirma os passos.
2.      O bom missionário ama os perdidos.
a)   Você já ouviu de missionários que não saem de casa porque não gostam do povo? Existe! E esse deveria sentir profunda vergonha e temor do Senhor da seara.
b)      Irmãos que freqüentam somente supermercados de estrangeiros?
c)      Não há missões sem encarnação, amor e dedicação às pessoas.
d)     É o amor que leva o obreiro a se encarnar na vida do povo e o conduz a uma vida simples. O obreiro se ajusta ao estilo de vida local e não impõe o seu!
e)      O amor leva o obreiro às casas, aldeias e ao convívio social com o povo, seguindo Jesus – Mt 9.35.
f)       Sem amor não há entrega, socialização e nem comunicação do Evangelho.
3.      O bom missionário se contextualiza.
a)    Como alguém pode comunicar um Evangelho supracultural sem compreender a cosmovisão do povo? Sem contextualização há problema!
b)      O missionário se disciplina no aprendizado da língua. Deus fala ao coração e com a língua do coração! Essa tarefa é essencial e inegociável, irmão aprenda a língua! Os primeiros anos devem ser dedicados ao estudo da língua, não se deixe levar pela necessidade e nem pela cultura do relatório. O obreiro que não fala bem a língua do povo, após um período será ridicularizado e rejeitado por eles, é normal até entre nós! Também não esqueça, você não é antropólogo, mas missionário, sua missão é pregar o Evangelho. É importante lembrar, pois o vocacionado pode ficar deslumbrado com as pesquisas e métodos e até mesmo esquecer da missão, deixando de lado a prioridade do reino de Deus.
c)   Uma boa contextualização acontece com a observação, dê atenção à cultura e costumes diários do povo. Observe, observe e observe! Há situações que podem afastar as pessoas de você e travar tanto relacionamento como a comunicação.
d)     Atenção: O missionário que não respeita o tempo de adaptação e aprendizado logo trará problemas, tanto para o trabalho, bem como para sua vida espiritual e emocional. Há campos em que a cultura é muito opressiva e a carga emocional é muito grande, o tempo de preparo na adaptação o ajudará a superar essas dificuldades.
4.      O bom missionário é servo.
a)      O obreiro em missões deve refletir o caráter de Cristo. Ele vem ao campo para servir e não ser servido.
b)      É alguém disposto ao trabalho, simples no viver e aberto para as necessidades do campo.
c)      O missionário não é Rei, somente serve, sem méritos ou status quo.
d)     O servo de Deus é humilde, íntegro e honesto em tudo que faz. Não perfeito, mas servo!
5.      O bom missionário se comunica.
a)      O missionário precisa se comunicar bem, as intercessões e suprimentos dependem da comunicação do obreiro. Uma boa comunicação gera interesse e harmonia a todos que estão do outro lado, seja como parentes, amigos, mantenedores ou líderes.
b)      Para que ocorra uma comunicação atraente e responsável o irmão(a) precisa investir tempo e paciência na preparação de informes, documentos e relatórios. Erros de português, formatação e o uso de palavras impróprias podem revelar desleixo e até mesmo problemas de personalidade e emocionais.
c)   A clareza: Busque ser claro e de atenção aos detalhes, você não escreve para si mesmo, mas para receptores de diversos níveis e tradições.
Olhe com cuidado a pontuação, palavras e formatação. Isso anima o leitor ou o faz
deixar o texto no primeiro parágrafo.
d)  A Responsabilidade: É parte de um trabalho transparente e compromissado o envio de cartas, relatórios, motivos de oração e idoneidade na comunicação com igreja e agência. Se o obreiro é ligado a alguma organização é importante comunicar todos os passos, isso por questão de ordem, submissão e consciência cristã. Não consigo ver nas Escrituras serviço autônomo no Reino, ainda que grupos separatistas defendam essa idéia, sinceramente não vejo essa realidade na vida de Jesus, dos Apóstolos e nem das Igrejas de Deus. Todos prestavam contas de seus atos como obreiros da Igreja e quando possível traziam seus relatórios a toda igreja e líderes gerais. Tenho uma impressão, posso estar errado, de que alguns obreiros brasileiros têm muita dificuldade com submissão e prestação de contas, até mesmo de trabalho em equipes por estas questões.
e)      O Respeito: Quero relatar o que ouvi recentemente de um Pastor amigo: “Os missionários não sabem se comunicar mesmo, às vezes não agüento ler as cartas. Desejo receber informações do trabalho e do campo, mas muitas vezes o que leio são exortações e repreensões”.
Tenha respeito com os leitores, seja cordial, educado e use palavras brandas. Aquele
que lê é seu parceiro e intercessor.
Obs: Não esqueça diante de uma discussão ou decisão de líderes que, e-mail é um
recurso indispensável e abençoador, porém é frio e formal. Quando você lê não está
olhando a expressão do outro, deixe de lado a interpretação nas entre linhas, isso é
traiçoeiro. Trate as questões com cordialidade, brandura, sobriedade e sabedoria – qualidades cristãs.
6.      O bom missionário é vigilante.
a)      Jesus disse: “Orai e vigiai”
b)      Cuidado com o Sr. Imediatismo, tenha paciência e faça aquilo que é correto e coerente.
c)    Cuidado com a Sra. Beleza ou Sr. Belo, principalmente o solteiro. Atenção, depois de algum tempo todos serão belos e atraentes, não perca de vista o alvo e sua vocação. Aos casados, digo não eu, mas o Senhor: mantenha seu leito sem mácula!
d)   Cuidado com a Sra. Ansiedade, irmão(a) você não é o “Salvador da pátria”, se prepare, aprenda a discernir o tempo e faça aquilo que é preciso. Não confie em seu coração! Busque equilíbrio entre razão e emoção, assim compreenda a vontade de Deus, com certeza você não é o mais interessado no campo. Deus é Senhor e tem propósitos definidos.
Percebo que alguns espiritualizam as situações, aquilo que acham ou dizem que é Deus na verdade é fruto de um coração ansioso.
É muito fácil e justificável dizer: “Deus falou; Deus quer isso; É de Deus tal coisa;
etc”. A espiritualização tem causado danos terríveis.
Não quero dizer que não acredito na condução de Deus, longe de mim isso, mas falo sobre o cuidado que as pessoas devem ter com o evangeliquês e todo esse processo de manipulação que o coração cria. Acima de tudo “O Espírito fala pela Palavra”!
e)    Cuidado com o Sr. Sustento, o missionário também é mordomo e os recursos de Deus são para seu bem estar e desenvolvimento da obra. O sustento não pode ser um meio de condenação ao missionário, mas deve ser para a Glória de Deus.
f)       Cuidado com a Sra. Glória, essa senhora tem derrubado muitas pessoas, nunca deixe de rever seus atos e palavras. Se dobre diante da orientação bíblica que diz: “... fazei tudo para a Glória de Deus” 1Cor 10.31.

Conclusão:

“A solução destes problemas é enviar missionários com maior preparo e sensibilidade cultural” Bruce Nicholls

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