Introdução:
A
cada dia que passa vê-se na obra missionária muitos obreiros decepcionados e
frustrados com o Ministério. Uma questão alarmante é a quantidade de problemas
de relacionamentos entre os obreiros, tanto no campo, como nas bases. Outra é o
número de obreiros que retornam do campo precipitadamente.
Por
essas coisas, tenho refletido sobre alguns motivos que fazem os missionários se
prejudicarem emocionalmente e no trabalho em equipe. É óbvio que os assuntos
aqui são resumidos, sendo assim, peço que o leitor entenda o artigo como uma
breve reflexão.
Tenho
por mim e não sou dono da verdade que grande parte de nossos problemas giram em
torno da integridade do missionário, seja em sua vida pessoal, bem como em seu
relacionamento com a equipe de trabalho, missão e igreja local.
Algumas questões
e experiênciais na obra revelam isso:
Como o
missionário reage à sua liderança e igreja?
Grande
parte dos Líderes de Missões, seja
na base ou no campo, são homens de Deus! Homens e mulheres que deixaram seu
conforto, seus sonhos, suas vidas em geral para treinar, enviar, dar suporte,
aconselhar, orar, visitar e representar o missionário diante da sua igreja e
sociedade. Algumas dessas pessoas são Pastores, exercem a autoridade pela vocação
recebida por Deus e foram comissionados e ordenados para sofrer em prol da
Missão.
Conheço
irmãos que deram suas casas, sítios, carros, móveis, filhos, roupas, dinheiro,
profissão e muito mais para que obreiros fossem enviados ao campo. Sofreram
stress, deram a cara a tapa, colocaram em risco suas famílias e até mesmo sua
saúde. Tudo para que a Missão fosse cumprida, através de irmãos e irmãs de
diversos lugares e culturas diferentes, uma breve pesquisa em agências ou
secretarias de missões vai trazer a tona esses obreiros dedicados.
Alguns
líderes são homens de oração e buscam sempre a sabedoria de Deus para
regulamentar diretrizes e proteger os missionários de problemas no campo ou nos
trabalhos em geral. Mesmo com todas essas qualidades, vê-se em geral reações
que chocam e alarmam quem vive e estuda a obra missionária. Temos na obra
missionária brasileira, obreiros que quando chegam no campo ou até mesmo
durante a estadia no Brasil, que se esquecem de princípios bíblicos básicos. Os
princípios de hierarquia, de seguir os passos de seus guias, ser submissos às
autoridades constituídas e que Deus conduz os vocacionados a Missões falando
aos líderes ou não é isso que o Espírito diz em At 13, Rm 12, Rm 13, Hb 13.7 e
Ap 2 e 3?
Constantemente,
vê-se missionários que levantam a bandeira da independência ministerial. “O que
mais importa é o que Deus falou comigo”, agem como se a liderança fosse somente
um instrumento de benefício próprio. Se a liderança oferece alguma orientação
desagradável, contrariado o missionário se entristece, desanima e às vezes até
se revolta. Há casos de obreiros espiritualistas, “a voz da liderança é humana,
porque Deus fala diretamente somente comigo”. Fico muito preocupado com
obreiros que ouvem muito Deus, pois é comprovado na psicologia da religião que
isso pode ser desvio moral, problema de personalidade ou até mesmo surto
esquizofrênico. Bom! Prefiro pensar que é imaturidade mesmo. Quando era
criança, muitas vezes meu pai tinha que ficar falando comigo, mas quando
cresci, um olhar bastava ou aquelas orientações antigas eram suficientes.
O
problema disso para missões é que o missionário espiritualista vai desprezar o
que a Bíblia diz e mais ainda, se tornará alguém insubmisso e emotivo demais.
Outro problema é que vai desprezar a sabedoria e o bom-senso e isso quase
sempre gera, soberba espiritual, desobediência, isolamento, brigas, ciúmes,
ira, ansiedade, ingratidão, etc.
O Missionário é
intocável?
Alguns irmãos mais empolgados com Missões consideram os obreiros que
vivem esse Ministério como “Intocáveis”, podem ser vistos até mesmo acima da
igreja. Abaixo transcrevo algo que escrevi quando questionado sobre o corte de
sustento missionário.
Muitas coisas justificam cortar o sustento missionário pela Igreja, até
mesmo porque o “enviado” é enviado pela igreja (At 13), Deus não aprova
ministério autônomo, não é bíblico. No caso do obreiro estar no campo, a igreja
não pode cortar sem antes trazê-lo, essas coisas se faz no próprio Pais e com
cuidado pastoral, no caso de missionários urbanos é diferente. A igreja deve
buscar tratar do problema e cuidar do obreiro, quando necessário até mesmo
aplicar disciplina. Não é somente má conduta que justifica o cortar sustento,
talvez eu seja duro demais com isso, mas se um Missionário usa a igreja apenas
como fonte de recursos, desenvolve seu ministério só, sem considerar sua
igreja, sem valorizar seus cuidados, etc; a igreja tem o direito de não
caminhar com esse obreiro. O Missionário tem responsabilidades com sua igreja e
a ela deve prestar contas e planejar juntamente com a liderança seus passos,
isso é bíblico!
Os
obreiros bem sucedidos são aqueles que ouvem seus liderem e são obedientes. Mesmo
quando errarem, e isso acontece, Deus honrará e transformará o mal em bem. A vida
de um vocacionado nunca é conduzida por homens, Deus é Soberano e Senhor da
vida e da vocação, aprendamos com José, Davi, Moisés, Paulo e outros.
Nossos
líderes não são nossos inimigos e lembremos que conselhos e disciplinas são
provas de amor, é amarga no início, mas depois transforma e fornece
crescimento.
Recursos Missionários
Agora
gostaria de levantar uma reflexão sobre isso! Esse é um assunto muito difícil e
delicado para a igreja local e agência missionária.
O
sustento missionário não é uma renda salarial ou honorários ministeriais. Todos
os recursos levantados pela igreja e mantenedores são para sua manutenção e
ministério.
Quando
os obreiros mobilizam em igrejas e pessoalmente o que é divulgado é o projeto
missionário, trabalhos de campo, etc. Por isso na obra missionária todos os
recursos são destinados para essas coisas. Na história de missões aqui no
Brasil, já tivemos que lidar com diversos problemas em relação a igrejas e
mantenedores, isso porque a reclamação sempre foi do uso inadequado dos
recursos levantados. Nossos mantenedores não aceitam, e talvez com razão,
quando o sustento é usado para aquilo que não é Missões.
Muitos
missionários usam dos recursos para sustentar suas famílias, fazer diversas
viagens, comprar carros luxuosos e outras coisas semelhantes. A questão não é
se algumas dessas coisas são dignas, pois o cuidado da família e até mesmo
alguns benefícios são legítimos, mas a questão é: Os mantenedores estão
contribuindo para esses propósitos? O que diria uma igreja ou mantenedor se
soubesse que uso meu sustento para ajudar um irmão desempregado ou para manter
minha família que está passando dificuldades? O que diria se soubesse que usei
o dinheiro ofertado para outra finalidade que não tem haver com Missões?
Quero
refletir sobre isso e tenho certeza das críticas que virão porque a obra
missionária brasileira já tem sido motivo de muitos escândalos e problemas. E
também não é fácil explicar isso para obreiros e nem mesmo refletir sobre o
assunto que é muito delicado! Como agência, o que fazer? Como o missionário
deveria agir? Como a igreja poderá tratar dessa questão?
Outra
questão que deve ser refletida é o relacionamento do Missionário com sua igreja
em relação aos recursos, como mencionado acima o obreiro não deve exercer
Ministério autônomo, mas é muito comum alguns irmãos tratarem a igreja apenas
como fonte de recursos, é como diz em Provérbios “A sanguessuga tem duas filhas
que dizem: Dá, dá. Há três coisas que nunca se fartam, Sim, quatro que não
dizem: Basta:
A sepultura, a madre estéril, A terra que não se farta de água, E o fogo que não diz: Basta – 30.15. Os Missionários que têm a igreja como fonte de recursos não se submetem às orientações da igreja, não valorizam seus projetos, não retornam para prestar contas, não compartilham seus sonhos e desejos, apenas retornam para pedir e se revoltam quando são contrariados. Sua dinâmica é Dá e Dá!!
A sepultura, a madre estéril, A terra que não se farta de água, E o fogo que não diz: Basta – 30.15. Os Missionários que têm a igreja como fonte de recursos não se submetem às orientações da igreja, não valorizam seus projetos, não retornam para prestar contas, não compartilham seus sonhos e desejos, apenas retornam para pedir e se revoltam quando são contrariados. Sua dinâmica é Dá e Dá!!
Preparo e
Aprendizagem
Nossa
principal função na Missão é comunicar o Evangelho. Sem preparo para o trabalho
da evangelização e para uma vida relevante no campo, isso não acontecerá.
Essa
questão tem virado motivo de muita dor de cabeça em alguns lugares. A realidade
demonstra que missionários são se preocupam bem com isso, por isso voltam
rápido e prejudicam a obra. Outros ficam tão empolgados e maravilhados com o
campo que entram de cabeça no ministério e após alguns anos voltam destruídos e
arrazados emocionalmente e espiritualmente.
É
comprovado por especialistas em treinamento missionário, em antropologia
missionária e na psicologia pastoral que o missionário precisa se dedicar a
adaptação cultural e lingüística. Gostei da regulamentação que os missionários
da minha igreja receberam na MNTB, os primeiros quatro anos será somente para o
aprendizado da língua e para entender os símbolos da cultura. Um casal da
Missão Servos esteve na Coréia do Sul, quando foram em casa me disseram que as
agências na Coréia determinaram que seus missionários não podem exercer
ministério nos primeiros sete anos. Tenho certeza que os missionários gerados
com essas orientações trarão menos problemas e produzirão mais frutos no reino
de Deus.
Como alguém pode
comunicar um Evangelho supracultural sem compreender a cosmovisão do povo? Sem
contextualização há problema!
O missionário se
disciplina no aprendizado da língua. Deus fala ao coração e com a língua do
coração! Essa tarefa é essencial e inegociável, irmão aprenda a língua. Os
primeiros anos devem ser dedicados ao estudo da língua, não se deixe levar pela
necessidade e nem pela cultura do relatório. O obreiro que não fala bem a
língua do povo, após um período será ridicularizado e rejeitado por eles, é
normal até entre nós! Também não esqueça, você não é antropólogo, mas
missionário, sua Missão é Pregar o Evangelho.
Uma boa
contextualização acontece com a observação, dê atenção a cultura e costumes
diários do povo. Observe, observe e observe! Há situações que podem afastar as
pessoas de você e travar tanto relacionamento como a comunicação.
Atenção: O missionário
que não respeita o tempo de adaptação e aprendizagem logo trará problemas,
tanto para o trabalho, bem como, para sua vida espiritual e emocional. Há
campos em que a cultura é muito opressiva e a carga emocional é muito grande, o
tempo de preparo na adaptação o ajudará a superar essas dificuldades.
Seja um obreiro
aprovado, tanto na Palavra, como na contextualização da mesma. Quando a
liderança de missões cobra, é rígida nessas questões, tudo isso é para seu bem
e para a Glória de Deus!! Queridos missionários sejam sensíveis e humildes de
coração para aprenderem e crescerem na obediência e com isso cumpra a Palavra
que diz: “Seja íntegro e ande na minha presença” – Gn 17.1
Consciência
Cristã
Queridos irmãos,
desde sempre os cristãos tem feito acordos e estabelecido normas e diretrizes
para o bom desenvolvimento do ministério cristão. Tanto a igreja local, bem
como todas as instituições ligadas à igreja, devem de acordo com suas funções e
propósitos, criarem estruturas de organização e funcionamento. Isso agrada ao
Senhor que tem se revelado como o Deus de ordem.
A obra
missionária não é diferente. Como organização as Missões de fé e
denominacionais possuem estatutos, regimentos e outras cartilhas que orientarão
suas práticas e também serão como instrumento de formação de perfil e valores.
Mas,
qual o problema nisso?
O problema é que
essas coisas não se aprendem na igreja local e às vezes nem em salas de
seminários, muito menos é ensinado sobre a relação do obreiro com a agência e
sua responsabilidade como cristão. É muito fácil encontrar obreiros em missões
que nunca aprenderam sobre a CONSCIÊNCIA.
A questão é que
no momento em que esse obreiro chega na agência desejando ir ao campo, sua
única preocupação é com o treinamento básico. Após o treinamento sua ansiedade
para sair é tamanha que assina contratos, faz parcerias, faz promessas, sem ao
menos pensar nas conseqüências posteriores.
Após um breve
período no campo, suas emoções e sonhos estão a mil, as necessidades são
gritantes, aí chega aquele momento de esquecer os documentos, filosofia da
missão, promessas, etc. Isso gera problemas enormes e o obreiro nem mesmo sofre
com o pecado da consciência, esquece até mesmo que a palavra do cristão é sim,
sim e não, não!! Para reflexão é importante uma leitura atenta para Romanos
14.22 – “A fé que tu tens, guarda-a para ti mesmo diante de Deus.
Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova”.
Sua
dedicação a Deus
Tenho ouvido em
algumas ocasiões que o problema do ser humano é com aquilo que é óbvio ou
simples, por isso falar de dedicação à Deus parece bem óbvio para um cristão,
porém na prática deixou de ser algo imprescindível. É possível conhecer
obreiros que “não se dedicam a Deus”. O devocional é inegociável!
Conclusão:
O artigo tem um
cunho bem formal e objetivo, essa característica é proposital. O desejo é
despertar incômodo. Se o texto deixar o missionário desconfortável a ponto de conduzí-lo
a reflexão ou mesmo me escrever, o artigo cumpriu seu propósito.
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