6 de julho de 2013

Pregação Expositiva: Não há outro método!

Introdução:
Em um artigo recente escrevi sobre a suficiência da Escritura, esta é uma doutrina que realmente acredito. Porém não tem possibilidade de ser um pregador da Bíblia, acreditando na suficiência e não ser adepto do método expositivo de pregação. Por isso, venho por meio deste, mesmo sendo um pouco longo, pois é a introdução de uma monografia, divulgar uma defesa explícita e convicta do único método que verdadeiramente honra a Escritura como palavra de Deus.

O que é pregação expositiva?

A pregação expositiva é um método de pregação e um estilo homilético de exposição da palavra escrita de Deus (Bíblia) de modo fiel ao texto, no qual quem fala é a própria Palavra e faz com que o pregador se submeta à ação do Espírito Santo um verdadeiro servo da Palavra.
Na pregação expositiva o mais importante é a palavra de Deus, pois esse foi o modo que Deus escolheu para se revelar a humanidade e para produzir fé e intimidade com os seres humanos, sempre com a presença do Espírito Santo falando e convencendo os ouvintes. A Confissão de fé de Westminster, a última Confissão Reformada propõe essa dinâmica de ação entre o Espírito e a palavra de Deus:

“...todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”.

Durante a história da Igreja de Cristo, muitos oradores santos usaram recursos e modelos de exposição da revelação de Deus. Devido à necessidade da mente humana os métodos de exposição e de ensino são necessários para que a Palavra seja entendida e possa ser praticada de forma relevante e concreta. Para isso uma argumentação sistemática e lógica é muito proveitosa na realização do ofício do pregador, pois o mesmo pode transmitir a verdade de Deus com muita eficiência e clareza.
A explicação do Rev.Hernandes Dias Lopes traz uma lucidez muito importante para começar a compreender esse método e a necessidade do mesmo para a edificação da igreja local, ele diz:

“... a pregação expositiva tem o compromisso de explicar o texto da Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e interpretativo, transmitindo aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da Palavra de Deus com aplicação pertinente” (LOPES, 2004, p.18).

Essa definição é muito clara no que pretende. Mostra o compromisso da pregação em explicar o texto bíblico para que os ouvintes possam tomar uma decisão de acordo com seu entendimento e disposição. O autor quer mostrar a integridade do método quando se crê que a intenção do pregador é falar da parte de Deus e fazer com que o povo conheça a sua vontade, sendo assim a pregação expositiva é simplesmente expor a Escritura com seu sentido original e aplicando seu conteúdo ao coração do homem contemporâneo.
Mesmo sendo um método nobre pelo que representa e faz na prática a pregação expositiva tem perdido seu valor em nossos púlpitos. Muitos pregadores evangélicos não sabem que método é esse e muito menos estão interessados em usá-lo devido sua falta de conhecimento e disposição para sua elaboração. É necessário considerar também que o desinteresse pela exposição em muitos casos acontece pelo desejo excessivo de crescimento numérico da igreja local ou por falta de conhecimento bíblico adequado.
É muito comum entre os membros nas igrejas e os pregadores de hoje acharem que tudo que se fala da Bíblia é exposição ou é pregação bíblica, mas isso pode ser uma falácia, pois tem surgido em grande número no seio da igreja cristã evangélica homens utilizando a palavra de Deus ou expondo um tema sobre a palavra de Deus, sendo assim em muitos lugares já desapareceu a exposição exegética e contextual. Aqui é necessário se arriscar e dizer que em algumas igrejas locais Deus não tem falado mais, pois alguns pregadores estão usando a Bíblia para que eles mesmos possam falar e para que os ouvintes acreditem que a voz que estão ouvindo é a de Deus.
Alguns pregadores sérios têm chegado à conclusão de que as igrejas locais no campo religioso brasileiro precisam urgentemente de uma restauração em seus púlpitos e um retorno ao ensino homilético de qualidade e que o método expositivo é a melhor forma de alcançar esse objetivo. O Rev. Hernandes Dias Lopes expressa seu sentimento dizendo: “De fato, muitos pastores e membros de igreja entraram numa profunda letargia espiritual. Um reavivamento no púlpito e nos bancos é absolutamente necessário” (LOPES, 2004, p. 11).
O entendimento sobre a pregação expositiva deve estar bem claro nas mentes daqueles que têm sido vocacionados para o ministério da Palavra, pois a ordem ao vocacionado é: “prega a Palavra”.
O objetivo primário da pregação bíblica é levar a igreja à maturidade espiritual e ao crescimento saudável a fim de formar discípulos parecidos com Cristo. A pregação expositiva se propõe a isso, nesse caso a definição de Walter L. Liefeld é bem esclarecedora:

“Pregação Expositiva é explicação aplicada... A natureza essencial da pregação expositiva, portanto, é pregação que explica a passagem de uma maneira que leve a igreja a uma aplicação verdadeira e prática da passagem” (LIEFELD, 1985).

Quando este método é estudado percebe-se a grande dificuldade que alguns pregadores têm para entender a diferença de outros métodos. A pregação expositiva é muito confundida com o método textual; este é muito usado e ensinado em seminários evangélicos e com certeza o pregador poderá usá-lo como exposição textual, sendo fiel ao texto usado e explicando seu contexto à luz de outras passagens da Bíblia. O método de pregação textual também tem sido importante na história da igreja e se for usado legitimamente e com cuidado pode ser um instrumento de edificação espiritual, porém para uma melhor compreensão é essencial entender a diferença; essa diferença é muito bem elaborada por Robson M. Marinho, quando diz: “Numa visão superficial, pode parecer que o sermão textual e o expositivo são bem semelhantes, pelo fato de ambos se originarem no texto bíblico. Mas a diferença vai além do tamanho do texto” (Marinho, 1999, p. 145).
O mesmo autor descreve as principais diferenças, dizendo que:

“o sermão textual extrai as divisões principais do texto, mas as subdivisões são construídas conforme a argumentação do pregador, enquanto o sermão expositivo constrói as subdivisões a partir das circunstâncias do texto”. Outra diferença é que “o sermão textual limita-se a um versículo da Bíblia, enquanto o expositivo pode usar uma narrativa ou um conceito de um ou mais capítulos, ou até de um livro inteiro da Bíblia. Um sermão expositivo pode abordar, por exemplo, a vida do profeta Jonas, utilizando todo o livro para extrair as divisões e subdivisões da idéia central”. O autor também declara que no textual, “o estudo do contexto é recomendável: no expositivo é indispensável, pois, do contrário, o sermão deixa de ser expositivo(1999, p. 146)”. 

O conhecido “príncipe dos pregadores” Charles Haddon Spurgeon (Spurgeon, 1996) era especialista na pregação textual, porém sua pregação textual era baseada em uma aplicada exegese e na explicação de algum texto específico. Percebe-se que até mesmo suas características temáticas eram trabalhadas na perspectiva do que alguns chamam hoje de pregação expositiva temática. Lendo seus sermões pode- se ver claramente um grande cuidado e fidelidade ao texto e contexto da Bíblia.
É importante lembrar que Spurgeon tinha uma habilidade muito grande nos estudos e na oratória, algo que não se aplica à maioria das pessoas e principalmente aos pregadores brasileiros. Também os pregadores de hoje não têm sido influenciados por esse brilhante pregador, pelo contrário, alguns nem sabem que esse notável servo de Deus existiu. O problema é que as influências de hoje estão nos campos da Psicologia, Filosofia e das técnicas de liderança e marketing e não nos campos da oração, exegese bíblica e de uma teologia comprometida com a verdade das Escrituras. 
A pregação expositiva se baseia no labor e na busca intensa de expor um texto mais extenso de acordo com o contexto e intenção do autor, a mesma extrai o tema e os tópicos oferecidos pelo próprio texto e aprofunda seu significado com aplicação direta aos ouvintes; um grande pregador chamado Haddon Robinson escrevendo sua tese sobre Pregação Bíblica diz:

“A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de, e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e experiência do pregador, e depois, através dele, aos seus ouvintes” (ROBINSON, 1983). 

A pregação deve ser em sua essência e propósito, bíblica, sem que a Bíblia seja apenas um instrumento a ser usado ou manipulado, porém a Bíblia nas mãos de um pregador deve ser explicada e aplicada para que seu propósito se cumpra como palavra viva e transformadora de Deus nos corações dos ouvintes. De acordo com a Bíblia parece que esse é o desejo de Deus, quando declara : “...assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei(Isaías 55: 11 – ARA)”.
A mensagem de Deus aqui deveria ser o suficiente para que o pregador se esforce em anunciar a palavra de Deus de acordo com o desígnio de Deus revelado no texto das Escrituras Sagradas.
Se a pregação expositiva se propõe a explicar o texto bíblico, pode-se concluir que pregação expositiva é simplesmente expor um texto à luz de seu contexto e sua estrutura se limita às porções exegéticas do próprio texto.
Na exposição o pregador não tem a autoridade de inserir seu próprio tema e suas idéias ao texto, pois o próprio lhe concede todas as partes do sermão e toda a estrutura necessária para que seja explicado.[1]
Cada porção exegética em nossas Bíblias com capítulos e versículos nos fornecem os temas e tópicos necessários para uma boa estrutura de sermão expositivo, fazendo com que o pregador se atenha ao texto e, suas pesquisas somente reforçam o contexto e não tome o lugar do próprio texto.

A pregação expositiva contemporânea

A pregação nos dias atuais está sendo deixada de lado ou alguns meios de comunicações a têm substituído, vários são os argumentos e alguns até convincentes diante de uma análise sociológica de nosso tempo. O Rev.John Stott faz uma declaração que revela o que alguns pastores têm pensado em relação à pregação:

“Os profetas da desgraça na igreja de hoje estão predizendo, com confiança, que já se passaram os dias da pregação. Dizem que é uma arte que está morrendo, uma forma de comunicação que está fora de moda...” (Stott, 2003, p. 51).

O mundo está em constante mudança, o pragmatismo religioso que em alguns anos atrás não era parte do campo religioso brasileiro agora é visível em todos os lugares e está no cotidiano religioso se manifestando nas liturgias modernas e conferências sobre crescimento da igreja, liderança e outras atividades desse tipo.
As estruturas organizacionais estão sendo formadas tendo em vista um crescimento como nunca visto antes, técnicas de liderança e marketing tem sido implantadas como uma espécie de “boom” do momento, a cada dia surgem movimentos vindos do Norte para implantarem novos modelos de crescimento. Em alguns movimentos eclesiásticos a teologia da Missão Integral, o pastorado de visitação e aconselhamento estão sendo extremamente ridicularizados e menosprezados como algo estranho e sem valor, pois esses trabalhos não produzem números e status para a igreja local.
Os líderes da atualidade não se preocupam mais com a edificação e a qualidade da igreja local, pois seus sonhos estão em mega-igrejas e lindos templos; o desejo único em seus corações é crescimento a todo custo, a frase favorita é: “precisamos preparar a igreja para crescer”.
É impressionante como os líderes cristãos estão se parecendo mais com os homens de negócios do que com homens santos, piedosos e compromissados com Deus. Uma pessoa não cristã expressou essa percepção, relatando: “porque será que tenho a impressão que quando estou sentado ao lado de um Monge parece que estou ao lado de um santo e, quando estou ao lado de um Pastor parece-me que estou ao lado de um homem de negócios”. Essa impressão não é nada irreal, pois há hoje em dia pastores que passam a maior parte do tempo com assuntos administrativos e burocráticos, alguns nem conhecem mais seu rebanho e as dificuldades que enfrentam.
A idéia de ir ao encontro da ovelha parece absurda, as ovelhas é que precisam correr atrás do pastor e marcar horário, se o mesmo encontrar um espaço na agenda, tudo bem, se não a ovelha precisa esperar ou procurar outro pastor que esteja desocupado. “Pastores muito ocupados não tem tempo para suas ovelhas e nem para cuidar do rebanho do Senhor”.
Se os pregadores estão motivados com essa mentalidade suas pregações são preparadas com idéias do mesmo tipo, a leitura bíblica não é feita com o propósito de saber a vontade de Deus e alimentar o rebanho, mas é feita para conseguir resultados em seus empreendimentos “cristãos”. Seus métodos de pregações servem aos desejos do público e caminham em direção ao que dá certo; como afirma John MacArthur:

“Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos programas e métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios pragmáticos” (MACARTHUR, 2007, p.6).

Há algum tempo atrás um pastor, professor de homilética em uma missão quando perguntaram se ele ensinava o método expositivo à resposta foi: “ensino um pouco de tudo, pois as coisas estão mudadas”.
A resposta tem em si uma verdade pedagógica que deve ser analisada, mas o significado por trás dessas palavras ilustra a idéia de nossos pregadores contemporâneos, a pregação tem que ser uma espécie de “fast food” e precisa estar de acordo com o planejamento, se o objetivo é crescer ou construir todos os esforços na pregação serão dirigidos a isso. Na linguagem desses pregadores contemporâneos se alguém quiser alcançar as pessoas será necessário usar métodos que satisfaçam e agradam os ouvintes.
Para exemplificar a influência do movimento de crescimento da igreja sobre a realidade das igrejas locais e dos ministros do evangelho basta lembrar, que o Presbítero que era o nome bíblico do oficial responsável pelo governo da igreja tem sido substituído por gestor ou grupo de gestores. Essa é uma forma pragmática de administração, pois os gestores são os responsáveis pelo planejamento e por fazer a igreja crescer.
Assim acontece com os movimentos de crescimento de igreja que tem formado a mentalidade dos pregadores contemporâneos e vem dominando muitas igrejas locais ao redor do mundo e particularmente no contexto brasileiro.
No livro Religião de Poder, quando Alister McGrath argumenta sobre o culto da personalidade ele faz uma leitura da realidade muito apropriada afirmando:

“O surgimento do teleevangelismo e ministérios de pregação tem levado a um culto crescente de personalidades dentro do evangelismo de poder. Isso é verdade não apenas nos ministérios de mídia como também nas apresentações que celebridades cristãs fazem regularmente em eventos e megaigrejas. Não é o que as Escrituras ensinam que realmente importa; mas o que fulano de tal tem a testemunhar comigo sobre suas experiências e idéias. Até mesmo para alguns pastores, não é o que dizem as Escrituras, mas o que o pregador disse que dizem as Escrituras, que tem verdadeira importância. Muitas vezes a Bíblia é totalmente ignorada; o que vale é o que Deus está dizendo agora pessoalmente a esse pregador...” (HORTON, 1998, p. 249).

Quantos pregadores estão sendo influenciados em cursos de liderança secular e aprendendo uma espécie de oratória que mexe com as emoções do público e métodos de persuasão e controle. Hoje é muito comum líderes que conhecem mais sobre neurolinguística, psicanálise e outras coisas do gênero do que conhecem a Escritura e a Teologia Cristã, infelizmente essa é a realidade de muitas igrejas e líderes cristãos.[2]  
Uma afirmação bastante coerente sobre pregação contemporânea é feita por John Macarthur Jr, em seu livro diz:

“Se a pregação deve desempenhar o papel designado por Deus na igreja, então ela deve ser edificada sobre a Palavra de Deus. Em anos passados, tal declaração teria sido óbvia, até axiomática... Infelizmente, isso já não ocorre, mesmo em igrejas evangélicas. Muitas pregações hoje destacam a psicologia, o comentário social e a retórica política. A que busca a” Relevância “... Lamentavelmente, percebe-se uma tendência no meio evangélico contemporâneo: a distancia da pregação bíblica e a retomada no púlpito de uma abordagem pragmática, tópica, centrada na experiência” (JR, 2004, p. 264).

A pregação contemporânea é caracterizada pela superficialidade e jogos de interesses, os modernos métodos de administração eclesiástica e os grandes empreendimentos religiosos roubaram o tempo de pastores e pregadores. O pregador gasta mais tempo no computador ou administrando as finanças e problemas da igreja do que com a palavra de Deus e a oração.
Essas atitudes têm dominado aqueles que são chamados para serem ministros da Palavra e tudo que se ouve em nossos púlpitos são resultados do dia a dia desses pregadores e não a genuína palavra de Deus como revelada nas Escrituras, essa é entendida pelo pregador no quarto da oração em secreto com Deus e no púlpito transborda do coração do pregador ao rebanho sedento e necessitado do alimento celestial; a palavra de Deus que edifica o cristão e salva o perdido.
Precisamos urgentemente restaurar o método expositivo na pregação contemporânea, os pregadores cristãos evangélicos precisam voltar à palavra de Deus, investir tempo em seus estudos e orações. A única maneira de edificar a igreja local e conduzir o rebanho ao conhecimento de Deus é levando os pregadores à Palavra e ensiná-los a expor os desígnios de Deus criando pontes para o mundo contemporâneo, com fidelidade e amor à Palavra.
A pregação expositiva contemporânea deve ser uma pregação centrada na Escritura, pois, segundo Jesus Cristo somente pelas Escrituras o conheceremos verdadeiramente, assim o Mestre orienta: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim (João 5:39 – ARA)”. A pregação é bíblica e cristocêntrica quando as verdades de Deus e de Cristo é pregada conforme revelada nas Escrituras.
Também a pregação não pode ser uma exposição morta baseada em uma tradição religiosa ultrapassada e sem sentido, apenas para se defender uma postura denominacional. Mas deve ser relevante para o dia a dia das pessoas ao qual Deus está falando e interessado em edificar e transformar.
Uma proposta recente para a pregação expositiva contemporânea é a pregação expositiva temática, onde o pregador extrai do texto seu tema e expõe esse tema à luz do seu contexto, criando pontes de aplicação ao ouvinte. A pregação expositiva temática tem a preocupação com a verdade do Evangelho e com a necessidade do povo de Deus; ela se torna bíblica e relevante sem negociar a essência da revelação de Deus.
O problema não está na pregação contemporânea em si, mas nos métodos usados e na maneira como a palavra de Deus é negociada tanto nos métodos como nas novas estruturas eclesiásticas.

A pregação expositiva e a palavra de Deus

A pregação expositiva como já foi visto se propõe a explicar e aplicar o texto bíblico de forma íntegra e autêntica, recebendo assim o título de pregação bíblica.
Com essa definição podemos meditar sobre qual é a relação desse método com a palavra de Deus (Bíblia), quero esclarecer, mesmo que seja possível deduzir do texto acima.
O Senhor Jesus quando expunha um texto fazia-o como se sua exposição fosse a própria palavra de Deus, todo seu ministério foi o ministério da Palavra.
Lucas registra uma de suas exposições, onde Jesus faz uma exposição do livro de Isaías:

“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:” O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele...”(Lc 4:16-20-NVI).

Segundo o costume judaico lê-se uma porção da Escritura, explica e aplica a porção, foi isso que Jesus fez. A diferença de aplicação no caso de Jesus em relação ao texto profético se deu no fato da profecia se aplicar a Ele mesmo, pois segundo o relato bíblico o cumprimento profético estava sendo realizado naquele exato momento e na vida de Jesus como o Cristo.
Depois de sua morte Jesus continua ministrando e faz uma exposição mais longa para provar sua Messianidade, seu método agora é de expor os livros da Escritura, explicá-los e aplicar aos acontecimentos atuais, essa exposição de Jesus está registrada no Evangelho de Lucas 24: 44-47.
Os Apóstolos deram continuidade a esse método deixando claro que a exposição fiel da palavra de Deus é a palavra de Deus proclamada, isso pode ser deduzido de textos como em Atos dos Apóstolos 2:14-36 e 7:1-53. Toda pregação dirigida pelos Apóstolos e discípulos eram exposições das Escrituras, toda estrutura do discurso era tirada das Escrituras e apresentadas com aplicação direta aos seus ouvintes, eles cumpriam suas responsabilidades como verdadeiros dispenseiros.
Os reformadores foram os homens que mais elaboraram conceitos profundos sobre a palavra de Deus. Sempre quando alguém escreve ou fala de pregação esse não pode deixar de lado uma das afirmações teológicas mais importantes para reforma protestante e posteriormente para a elaboração da teologia reformada, a Sola Scriptura – a supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos.
Para os reformadores a pregação da Palavra era o próprio Deus falando. Praticamente todos os reformadores pregaram os livros da Bíblia, alguns demoravam anos pregando toda a Bíblia ou expondo um determinado livro, basta ler os comentários de João Calvino (1997, p. 24) para entender que este reformador era um expositor e exegeta por excelência: “A nossa única necessidade é a de não ter em vista nenhum outro objetivo além do desejo sincero de só fazer o bem. Assim devemos também proceder no tocante à exposição da Escritura”.
Em seu livro Creio na Pregação no capítulo um, John Stott (2003, p. 15) faz um esboço histórico sobre a pregação mostrando que todos os homens poderosos nas mãos de Deus foram homens que acreditavam que Deus agia através da pregação e que esses homens quando pregavam estavam anunciando a palavra de Deus e unicamente isso.
O Rev. Hernandes Dias Lopes falando sobre o pensamento de Calvino sobre a pregação declara:

“Calvino entendia a pregação como a vontade de Deus para a igreja, um sacramento da sua presença salvadora e um trabalho tanto humano como divino. A Palavra de Deus pregada é o cetro pelo qual Cristo estabelece continuamente seu domínio ímpar e espiritual sobre a mente e o coração do seu povo. O púlpito é o trono de Deus, do qual ele quer governar nossas almas” (Lopes, 2004, p.50).

A pregação expositiva é Deus falando através das Escrituras, usando os homens para cumprir seus propósitos de resgatar as ovelhas perdidas e edificar sua igreja, a fim de apresentá-la perfeita e transformada.
Essa pequena argumentação sobre pregação e palavra é um pouco perigosa, hoje há muitos falsos mestres que se dizendo pregadores da Palavra usurpam a autoridade divina, dizem que são inspirados por Deus e uns poucos até afirmam serem “apóstolos” e que suas igrejas são a continuação do livro de Atos.
Os textos bíblicos sobre pregação deixam claro que a pregação é a palavra de Deus, somente quando ela é bíblica e expõe fielmente o texto. Quando falamos bíblica queremos dizer que todo seu conteúdo e contextos são extraídos diretamente do texto. Paulo inspirado pelo Espírito Santo escreve para Timóteo, dizendo: “pregue a palavra...(2Tm 4:2-NVI)".
A ordem de Paulo não é para que ele usasse a palavra de Deus para comprovar suas idéias ou formular uma pregação temática com versos isolados fora de contexto. Paulo está tendo em vista o que tinha dito anteriormente na carta ao escrever no terceiro capítulo, que: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil...” (2Tm 3:16 -NVI), a palavra que deve ser pregada é a de Deus e, dentro de seu contexto histórico-gramatical e de seu propósito para o qual foi revelada, principalmente na encarnação.
A pregação expositiva leva o pregador a se fixar no texto e no propósito de Deus evitando que o mesmo tire suas próprias conclusões, ou viaje para uma direção sem volta, deixando de lado o que Deus quer falar.
O Rev. Hernandes Dias Lopes (2004, p. 46) faz uma afirmação sobre o pensamento de Lutero em relação à pregação e palavra de Deus:

“Martinho Lutero cria que a pregação era o meio de salvação, por não ser uma simples atividade humana, mas a própria Palavra de Deus proclamando a si mesma mediante o pregador”.

O pregador é apenas canal, vaso e arauto. O Rev.John Stott (2005, p. 12) trabalha muito bem o texto de Pedro para deixar claro que a responsabilidade do pregador é expor e fazer sua exposição ser a própria Palavra:

“... sua tarefa é expor a revelação que já foi definitivamente dada. E embora pregue no poder do Espírito Santo, ele não é inspirado pelo Espírito no sentido em que os profetas o foram. Certo, se alguém fala, deve falar de acordo com os oráculos de Deus, ou como se pronunciasse palavras de Deus” (1Pe 4:11).

Conclusão:
A pregação expositiva é sem dúvida o melhor método para a edificação da Igreja de Deus, a Bíblia continua sendo a voz de Deus aos homens para libertar, transformar e conduzí-los à vida eterna.
A Palavra nos fornece todas as técnicas de crescimento e princípios de liderança que precisamos, o homem de Deus não precisa correr atrás de recursos seculares ou informações empresariais para edificar a igreja local, o mesmo Senhor que a fundou é que cuida de sua igreja e a edifica por meio de sua presença no Espírito Santo que fala na Escritura.
O que a liderança atual precisa na verdade é “pregar a Palavra”, retornar a verdadeira pregação e amor por essa Palavra que é viva e eficaz, espírito e vida.



[1] Precisamos ser honestos em dizer que nem todos os textos fornecem essas facilidades, alguns textos são mais bem explicados se forem usados outros métodos, mas mesmo assim o pregador não tem o direito de usar o texto como quer. Sempre é necessário uma interpretação e uma aplicação correta e digna do próprio texto. O Pregador não pode esquecer que está diante da palavra de Deus e que ele como um arauto é servo da Palavra.
[2] Essas áreas tem seu valor e importância, mas muitos têm usado essas ferramentas para intimidar e
  persuadir as pessoas para que acreditem sem questionar em suas idéias e pregações.

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Um comentário:

  1. Aleluia por encontrar um remanescente fiel que ainda acredita na pregação expositiva.

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