6 de dezembro de 2016

O CRISTÃO E A TATUAGEM

Introdução:

Nos últimos anos a tatuagem deixou de ser um assunto periférico ao cristão e passou a ser um problema a ser discutido. Isso se dá porque aumentou consideravelmente a propaganda, seja por meio dos tatuadores ou de pessoas famosas, e também tem crescido o número de jovens em nossas igrejas aderindo a essas marcas no corpo. Ao mesmo tempo em que cresce essa prática há um certo receio ou medo em líderes cristãos em se posicionar, pois qualquer posicionamento causará reações, seja de um lado ou de outro. Bom! Como já é do conhecimento dos meus leitores não sou de ficar em cima do muro, minha personalidade conservadora não me permite, me deixando em maus lençóis com aqueles mais moderados e liberais. É preciso dizer também que não estou fechado nessa questão, posso ser convencido pelas Escrituras ou pelo senso comum de que estou equivocado e, ainda tenho refletido em relação a “tatuagem inocente”[1] como uma possível exceção. Mas, vamos entrar na brecha e instigá-los nessa questão.

1. Breve História – para o pressuposto histórico/antropológico

Segundo as informações do Wikipédia há “provas arqueológicas que afirmam que as tatuagens foram feitas no Egito entre 4000 e 2000 a.C. e também por nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia (maori), que tatuavam-se em rituais ligados a religião”.[2]Também é relatado que o pai da tatoo “foi o capitão James Cook (também descobridor do surf), que escreveu em seu diário a palavra "tattow", também conhecida como "tatau"(era o som feito durante a execução da tatuagem em que se utilizavam ossos finos como agulhas e uma espécie de martelinho para introduzir a tinta na pele)”. Com a circulação dos marinheiros ingleses a tatuagem e a palavra tattoo entraram em contato com diversas outras civilizações pelo mundo novamente. Porém, o governo da Inglaterra adotou a tatuagem como uma forma de identificação de criminosos em 1879; a partir daí a tatuagem ganhou uma conotação de fora da lei no ocidente”. Tanto pelo uso, bem como pela a adoção em grupos marginalizados, a tatoo passou a ser um símbolo de identificação cultural em todos os lugares do ocidente. No oriente ainda é possível encontrar significados símbolicos mais tribais e ligados a família, casamento, etc; mesmo que em alguns casos ainda encontramos símbolos religiosos.

Segundo um dos sites mais importantes de tatoo, o “Mundo das Tatuagens: “A tatuagem surgiu primeiramente entre tribos e clãs, como fator distintivo de grupo. Estima-se que isso ocorreu há pelo menos 3500 anos atrás. Inclusive, foi comprovada uma tatuagem em uma múmia do século VII dos nossos tempos e há ainda quem diga que é um sintoma da modernidade. Depois, com as evoluções sociais e da própria tatuagem a marca passou a ser o que é hoje; ou seja, mais uma expressão da personalidade, uma marca particular do indivíduo”. Essa expressão da personalidade representa: “transformar-se em guerreiro; tornar-se sacerdote; tornar-se rei; casar-se; celebrar a vida; identificar os prisioneiros; pedir proteção ao imponderável; garantir a vida do espírito durante e depois do corpo”.[3]

Na revista Galileu temos alguns estudos que identificam a tatuagem como: “o uso para identificar bandidos e enfeitar poderosos; para juntar tribos e afugentar inimigos; para mostrar preferências e esconder imperfeições” e a mesma revista traça um panorama histórico revelando que:

“Entre 2160 e 1994 a.C. múmias de mulheres egípcias, como a Amunet, possuíam traços e inscrições na região do abdômen; Entre 509 e 27 a.C, os imperadores romanos determinavam que para não serem confundidos com súditos mais bem afortunados; prisioneiros e escravos deveriam ser tatuados; Em 1600 com o fim das guerras feudais no Japão, os serviços dos samurais tornaram-se desnecessários. Surge, então, a Yakuza, a máfia japonesa; Em 1769 na expedição à Polinésia, o navegador inglês James Cook nota a tradição local de marcar o corpo com tinta. Na língua local, chamavam isso de "tatao"; Em 1942 durante a Segunda Guerra, os nazistas tatuavam um número no corpo dos judeus para identificá-los como prisioneiros nos campos de concentração”.[4] 

Em outras pesquisas como nos sites: remoção de tatuagem, mundo estranho, Brasil escola e outros com menos importância iremos encontrar relatos demonstrando que a história da tatuagem sempre esteve e ainda está relacionada com práticas como símbolos religiosos, marcas de prisioneiros, algo relacionado a sensualidade ou outras marcas pagãs e rebeldes. Essas histórias são descritas por historiadores e pesquisadores não cristãos, por isso não há preconceito e muito menos intenções ilegítimas em seus relatos.

A história da tatuagem é importante para nossa reflexão cultural e simbólica, pois “aquele que não aprende com a história tende a errar duas vezes” e a história revela o propósito e razão de ser das coisas na sociedade.

2. Refutando possíveis argumentos:

Tenho ouvido alguns argumentos em defesa da tatuagem, esses argumentos são encontrados em placas, vídeos na internet e em conversas com pessoas que aderiram a moda. O meu espanto é que encontrei cristãos em vídeos no youtube e pelo menos três que me questionaram pessoalmente utilizando os mesmos argumentos. Assim gostaria de expor os argumentos e refutá-los:

I - O primeiro argumento que gostaria de refutar é: “em tempos passados a tatuagem era uma marca rejeitada pela cultura, porém houve mudanças, pois as culturas mudam e agora a tatuagem se tornou algo aceitável e bem visto”.

Resposta - De fato, há mudanças culturais. Em relação a essas mudanças culturais precisamos ser sensíveis e coerentes com o fato de acontecerem alterações devido a mudanças filosóficas e do tempo. A questão é se um cristão pode aceitar essas mudanças simplesmente, sem questionar e criticar. Não seria cristão aceitar essas mudanças sem considerar os motivos e razões das mesmas. O cristão é um indivíduo que foi transformado pelo Espírito e possui a mente de Cristo, por isso como cidadão do Reino ele deve analisar e refletir se as alterações culturais foram promovidas pela presença redentora do Reino ou são alterações que exaltam a corrupção humana, a rebeldia do homem caído e a ofensa ao evangelho.

Os tatuadores tentam convencer sem argumentos que sua profissão é uma arte hoje em dia e não há nada de ruim; mas um verdadeiro cristão precisa perguntar: “em que a tatuagem glorifica a Deus”? ela promove a beleza da Pessoa de Cristo? Essa marca no corpo promove o Reino, a pureza e santidade; promove o evangelho; contribui com a Missão e ainda, é uma marca que torna a pessoa mais semelhante a Cristo ou ao mundo?

II - O segundo argumento mais usado é aquele que fotografei na maior loja de tatuagem da minha cidade e o mais usado entre cristãos na internet: “Não interessa o que a sociedade pensa”.

Essa filosofia de vida é um ultraje ao pensamento cristão. Primeiro porque agride o segundo mandamento: “amarás ao teu próximo” e depois porque não aprendemos assim do Apóstolo inspirado: “E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo” (1Cor 8.13). Paulo bem sabia que o ídolo em si e as comidas sacrificadas não significam nada, a tatuagem em si também não significa nada, porém se ao próximo isso é tropeço “nunca mais comerei”. Sabemos que pela história contada acima, a tatuagem é um escândalo no mundo, quanto mais a um cristão que “não é deste mundo”. Por essa razão, o cristão deverá considerar o que dizem, qual a leitura é feita das marcas que ele carrega no corpo. A tatuagem é tão mundana que as instituições não cristãs repudiam e recentemente um homem para ser aceito precisou entrar com recurso na justiça. Nem o próprio mundo sem Cristo considera aceitável. No mínimo, a tatuagem traz desconforto na sociedade e nas Igrejas de Deus.

Alguns pregadores argumentam que o uso da tatuagem não é pecado, mas é resultado de “falta de sabedoria”. Esse argumento diminui a importância da discussão sobre o assunto ou acaba deixando no campo do fórum íntimo, pois não podemos viver pensando no mais fraco ou naquilo que é escândalo ao mundo. Quando a questão é um assunto absurdo ou sem prejuízos creio que não devemos ficar presos a consciência do mais fraco, porém quando se trata de práticas que de fato escandalizam e simbolizam coisas pagãs, sensuais e algo tão sério como rebelião, como é a tatuagem, precisamos refletir. (1Cor 8)

3. Pensando bíblicamente

Praticamente todos os cristãos confessos declaram que a Bíblia é a regra de fé, prática, governo e disciplina; porém alguns não seguem essa confissão na prática. Quando as regras não se ajustam aos seus desejos ou quando precisam de respostas imediatas, a Bíblia deixa de exercer autoridade. Achei curioso quando li um teólogo liberal afirmar que o problema não está na Bíblia; sua autoridade, revelação sobrenatural, verdade, etc. Ele diz: “pessoas modernas querem viver suas vidas, o que significa fazer as próprias regras, tomando um rumo pela vida de escolha própria”. (Don Cupitt)

Se o ser humano não se render à autoridade das Escrituras, seu conhecimento de Deus e suas decisões da vida serão tiradas da experiência e da sua própria cultura; o indivíduo será acomodado a cultura e se tornará refém de si próprio ou de algum sistema absurdo de vida. Seguir a Bíblia, seja no que é claramente revelado ou naquilo que é deduzido dela nos permite conhecer a Cristo, imitá-lo e assim resgatar o propósito de Deus para sua criação. É através de Cristo e Sua Palavra que nós formamos uma “mente evangélica” (Mark Noll) e essa filosofia é a singularidade da cosmovisão cristã.
  
Encontramos nas Escrituras alguns textos que deveriam ser nossa regra de vida. Todos os pensamentos e decisões de um cristão precisam considerar esses textos como fundamentais:

I – 2Cor 3.2. “Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens...”. Algumas pessoas precisam de cartas de recomendação, pois suas vidas não são conhecidas, mas aqueles que são frutos do ministério apostólico suas vidas são para si mesmos uma carta. É fato que as pessoas ao nosso redor estão olhando para nós como uma carta. Para aqueles que convivem conosco basta nosso coração para que percebam Cristo em nós. A pergunta é: como os de fora irão nos ler quando olharem para nós e sem convivência para interpretar, como interpretarão as marcas em nosso corpo. É essa leitura externa que a sociedade em geral faz, razão que justifica um policial militar questionar todas as pessoas na revista, se tem tatuagem ou não; por que fez? E onde fez? As pessoas nos associarão a Cristo ou ao mundo (prisioneiro, heavy metal, punk, etc).

A tatuagem é uma poderosa forma de comunicação. O objetivo daquele que marca o corpo é comunicar alguma mensagem através de si mesmo, tendo como fonte de escrita seu próprio corpo. Talvez o que me chama mais a atenção e não concordar plenamente com aqueles pregadores que somente dizem ser “falta de sabedoria” seja a questão da comunicação cultural. Já ouvi alguns pastores e tatuadores cristãos argumentarem defendendo um sincretismo cultural; ou seja, não havendo nenhum versículo claro sobre isso ou não fazendo nada de mal a ninguém está liberado. Esses irmãos tentam relativizar os símbolos culturais e se apegar as mudanças da cultura. Porém, o sincretismo cultural afeta diretamente a questão da comunicação cultural, afetando o testemunho do evangelho na prática de uma vida cristã mais parecida com o mundo do que com Cristo e Sua Igreja. A tatuagem não faz parte da cultura cristã e não é neutra em sua simbologia cultural; sendo assim, é uma coisa que comunica uma mensagem na cultura.

Como foi demonstrado no capítulo 1 em nossa análise histórica, a tatuagem é um símbolo com significados específicos e nunca na história da humanidade e nem da Igreja esse símbolo foi associado a Deus e aos cristãos. São símbolos culturais que significam rebeldia, culto ao corpo, ídolos pagãos, marcas de alguma facção ou tribo urbana; protesto contra hierarquia ou sistema de autoridade, sensualidade, entre outros. Até mesmo dizeres religiosos, como o nome de Jesus e versículos se tornaram símbolos do sistema penitenciário.[5]Pergunto: Quando as pessoas lerem seu corpo, através daquilo que ele comunica em suas tatuagens, elas te associarão a Cristo? Você estará neutro em uma interpretação que a sociedade fará nas marcas do seu corpo? O sincretismo cultural não conseguirá consistência bíblica e antropológica para defender o uso da tatuagem para um cristão. Meu irmão, você é a carta lida por todos os homens!

Não seria interessante aqui considerar os textos que dizem: “Fugi de toda aparência do mal” (1Ts 5.22)? ou “Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado”? (Rm 14.20-23) 

II – 1Cor 10.31. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos”.

Uma pessoa me procurou e disse: “pastor me dê uma razão para não fazer uma tatuagem”. Pensando nesse texto respondi: “como evangélico você precisa mudar a pergunta; os católicos seguem o “princípio do silêncio das Escrituras”, ou seja, o que a Bíblia não diz claramente eu posso fazer. Porém os protestantes reformados seguem o “princípio da regra de fé e prática”, ou seja, eu somente posso fazer aquilo que agrada a Deus, o que o Criador revelou sobre mim. Então, a pergunta seria: “Há alguma razão em que a tatuagem glorifica a Deus?” Eu estou interessado na glória de Deus ou simplesmente desejo marcar meu corpo porque é legal ou porque “todo o mundo faz?” Será que glorifica ao Criador eu me associar a uma prática que historicamente não é cristã e ainda a história revela que seus propósitos sempre estiveram ligados ao culto pagão, sexualidade liberal, máfias, tribos urbanas, etc. Ainda aguardo uma resposta bíblica que justifique a glória de Deus na tatuagem. Radical né? Pois é! Essa é a razão de alguns abandonarem a Cristo e seguir o “presente século” (2Tm 4.10), o desejo de se ajustar aos padrões desse mundo.

III – “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1Cor 3.16-17). Há duas expressões no texto que chamam a atenção; primeiro “sois santuários” e depois “é sagrado”. O Apóstolo está chamando a atenção sobre o modo como estamos edificando nossa vida. A exortação acontece em um contexto em que a igreja foi influenciada pelo mundanismo de Corínto; imoralidade, idolatria, partidarismo, sabedoria deste mundo, etc. Por essas razões, foi preciso escrever demonstrando que se de fato são de Cristo, eles não poderiam viver “além de Jesus Cristo” (v. 11), “porém cada um veja como edifica”. O fato do Espírito de Deus habitar em nós garante que não podemos nos associar ao estilo de vida não cristão, somos separados para uma vida consagrada, diferente e não mais na própria sabedoria. Não podemos nos dar ao luxo de desfrutar das “coisas vãs” (1Cor 3.20-21) e nem fazer o que é próprio do homem sem Cristo. “Somos dele”!

IV -  1Cor 6.20. “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo”. Querido irmão, vosso corpo é sagrado. Não sois de vocês mesmos para marcá-lo como se tivesse a liberdade para se escravizar ao mundo não cristão. Agora em Cristo Jesus somos marcados pelo sofrimento da perseguição pelo fato de não nos conformarmos com esse sistema anticristão. Não carregamos no corpo qualquer outra marca “para nos gloriarmos na carne” (Ef 6.13), porém nossa esperança é carregar as marcas de Cristo ((Ef 6. 17). Não nos apresentamos ao mundo, mostrando as marcas desenhadas por um tatuador pagão, mas nos apresentamos a Deus como um culto e cada vez mais parecidos com Cristo, nosso Senhor (Rm 12.1-4).

V – Nossa União com Cristo. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êx 19.5-6); “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz...” (1Pe 2.9).

As expressões “no Senhor”, “nele” ou “em Cristo” ocorrem 164 vezes nas cartas de Paulo. Por isso, ele diz: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim...” (Gl 2.20). A nossa União com Cristo determina como devemos ser e as ideias e formas de viver na sociedade. Por Cristo sou liberto do sistema, seja da secularização ou do sincretismo com todas as suas sutilezas e promessas de sucesso e orgulho próprio. Em Cristo podemos oferecer ao mundo uma proposta de vida e de religião que promovem a verdadeira comunhão com Deus, felicidade, justiça e sabedoria. Isso se chama REDENÇÃO. “No Cristo crucificado é que estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus”. (Lutero)

VI – 2Cor 1.12. “Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência (συνείδησις), de que com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas, na graça divina, temos vivido no mundo e mais especialmente para convosco”. Nossa consciência não está fundamentada na libertinagem do que “faço o que quero” ou escrava dos símbolos cravados na tatuagem, não e não! Esse texto nos orienta nessa questão. Vivemos em novidade de vida, com uma consciência cativa a palavra de Cristo e firmada pelos fundamentos da cosmovisão cristã e como cremos na suficiência e autoridade das Escrituras somos guiados pela filosofia reformada.

VII – Rm 11.36. “Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele seja a glória eternamente! Amém”. Pv 16.4. “O Senhor fez todas as cousas para determinados fins...”. 1Cor 7.31. “e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa”.

Há uma regra cristã muito importante a ser considerada nessa questão. É o princípio correto no uso das coisas que Deus criou. A Bíblia nos orienta devidamente sobre a finalidade das coisas e como deveríamos usá-las, isso para a revelação dos ímpios e o louvor dos justos. Os ímpios deturpam todas as coisas e os justos contemplam as belezas e desfrutam dos prazeres das coisas criadas.

Cada coisa foi feita para um fim proveitoso, na prática vê-se que a natureza revela seu propósito nas próprias qualidade naturais que demonstram e os benefícios para a vida e para a glória do Criador. Assim pelas Escrituras e pela razão natural sabemos as finalidades de todas as coisas (ou quase todas) que existem e assim desfrutamos com sabedoria e obediência, caminhando sem apego para o Reino futuro do Nosso Senhor.

Por essas razões, concluo a reflexão desses três versículos, perguntando: historicamente, qual o propósito/finalidade da tatuagem? Para que essa coisa passou a existir? O corpo humano foi feito para ser marcado por uma incisão voluntária? A tatuagem promove benefícios à vida? É necessária a existência humana e a qualidade de vida? Promove a beleza de Cristo? Quais as qualidades naturais que a tatuagem demonstra para que ela tenha um fim proveitoso e glorifique a Deus?

Naquilo que de fato glorifica a Deus podemos dar razão, como muito claramente nos explica o Prof. João Calvino: “Ora, se ponderarmos a que fim Deus criou os alimentos, verificaremos que ele quis levar em conta não só a necessidade, mas também o deleite e gáudio; assim, na indumentária, além da necessidade, foi seu propósito fomentar o decoro e a dignidade; nas ervas, árvores e frutas, além dos variados usos, proporciona a beleza da aparência e a suavidade do perfume. Ora, a não ser que isso fosse verdadeiro, o Profeta não contaria entre as beneficências de Deus “o vinho que alegra o coração do homem”, “o óleo lhe faz resplandecer o rosto” [Sl 104.15]; nem estariam as Escrituras, a fim de enaltecer-lhe a benignidade, relembrando a cada passo que ele deu aos homens todas as coisas desse gênero”. (Inst, III, X, 2)

O ímpio deturpa o uso das coisas criadas e promove outro fim que não é proveitoso: o sexo foi feito para o casamento (adultério); o esporte para a saúde e alegria (UFC); a música para expressar louvor e alegria (Black Metal, Funk, Punk); a religião para comunhão com Deus (idolatria); a consciência para a liberdade de expressão (revolução); a política para a ordem e justiça (injustiça, corrupção); o livre comércio para o direito de propriedade, generosidade e o dom da riqueza (socialismo, egoísmo). O vinho que foi feito para a alegria se tornou na cultura brasileira uma desgraça, a cerveja produzida pelos monges e um ótimo diurético se tornou uma destruidora de famílias. Todas essas coisas foram feitas para a glória do Criador, mas são corrompidas pelo uso não cristão, daí a necessidade de redenção e da prudência em relação ao vinho e cerveja por causa do testemunho.[6] O corpo não foi feito para a tatuagem e a tatuagem não foi feita para o cristão.

Acredito que considerar o fim de todas as coisas é uma boa e sábia filosofia de vida e ter como fundamento a dedução das Escrituras em assuntos não claros é agradável ao Senhor e um prazer de sua soberania.

4. O novo crente e sua antiga tatuagem

Não vejo muitos problemas em relação ao novo crente, talvez apenas um texto já nos orienta: Atos 17. 30-31 - “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. Nossa antiga vida era guiada pelo “príncipe deste século” (Jo 16.11; 2Cor 4.4) que operava em nós (Ef 2.2), agora regenerados pelo Espírito (Ef 2.1; 2Cor 5.17) recebemos nova vida e andamos segundo Cristo e estamos em transformação para que a cada dia sejamos mais parecidos com Ele (Rm 8.14,28-29). Por essas razões, as marcas do velho homem com toda aparência do mundo cravada no corpo se tornou um testemunho de redenção e um meio para que, através dessas marcas o novo crente possa testemunhar em palavras de sua conversão.

É claro que no primeiro momento o novo crente será associado a antiga vida, porém algumas marcas do passado são incorrigíveis. Isso não deve deixá-lo constrangido ou desanimado, mas com o coração redimido e interessado em pregar o evangelho, ele deverá usar essas marcas como oportunidade de fazer o Cristo libertador conhecido em todos os grupos da sociedade.

Agora, convertido e crente ele deverá andar como crente, fazer as coisas de crente e como crente ser parecido com aquele que ele crê. “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia”. (Jo 15.18-19)

5. Jesus Cristo tem tatuagem?

Tenho ouvido algumas pessoas desinformadas usarem um argumento “bíblico” para defender o uso da tatuagem. O argumento é baseado no texto de Apocalipse 19.16: “Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES”.

Refutação bíblica: Um antigo ditado diz: “Um texto fora de contexto é pretexto para heresia”. Considerando as regras de interpretação e o contexto é preciso considerar duas coisas: em primeiro lugar o versículo anterior e posterior revelam que a linguagem é simbólica. O versículo 15, diz: “Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações...”. Seria possível alguém acreditar que literalmente sai uma espada de aço ou de ferro da boca de Jesus? Acho que nem no circo alguém acreditaria nisso. É um símbolo que representa o juízo de Deus pela Palavra. Em segundo lugar, símbolo cravado na coxa ou em uma tradução mais literal; “nas vestes sobre a coxa”, é uma demonstração simbólica de soberania, controle e governo sobre tudo e todas as nações. Nos versículos posteriores encontraremos sua soberania na guerra contra os poderes do Maligno e os Reis que se acham poderosos.

Em nenhum momento há evidência de ser uma marca física literal, também é preciso considerar que o texto descreve o Jesus vitorioso, juiz e não é um texto normativo, doutrinário que autoriza os cristãos a marcarem seus corpos, seguindo o exemplo dos pagãos. Não e não!! O texto não fala sobre tatuagem e muito menos oferece um salvo conduto para o cristão se parecer com o mundo.

As únicas marcas no corpo que Nosso Senhor carrega são as marcas físicas da cruz. Ele foi definitivamente cravado pelos nossos pecados, moído e marcado para que como cordeiro de Deus tirasse nossos pecados e assumisse nosso lugar de condenação e morte. Jesus é tatuado sim, com as marcas do sofrimento e agonia; as marcas da paixão. Não foi e não será cravado pelas agulhas de uma filosofia de vida pagã, rebelde e mundana; pois todas essas coisas se tornaram malditas nele para nossa libertação e novidade de vida. A cruz continua sendo maldita e uma lembrança de que lá Ele levou sobre si nossas transgressões. A cruz de Cristo é a única marca física que o Senhor levará para sempre sobre si.

Conclusão:

1Cor 6.12. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. Mediante todas as informações históricas e reflexão bíblica eu concluo que a tatuagem é incompatível com a fé cristã. Não creio que convém a um servo de Cristo se deixar dominar por essa prática pagã. De minha parte, não me deixarei dominar por coisas que não edificam a igreja e muito menos por aquilo que pode constranger ou escandalizar o evangelho. Prefiro me guardar de qualquer prática que está diretamente associada aos grupos ilegais de prisioneiros, as tribos urbanas, máfias japonesas ou até mesmo a aqueles jovens que se rebelam contra os pais, pastores e autoridades civis. O mesmo princípio e reflexão bíblica eu aplico para a maçonaria, ingerir publicamente bebida alcoólica, festa de halloween e junina, uso de drogas e outras coisas impiedosas.

Finalmente, aos meus leitores e amigos, tatuados ou não; meu amor, carinho e todo o respeito que lhe são dignos. Nunca faltarei com respeito e cordialidade a qualquer pessoa que seja. Somente a Deus toda a glória!     


[1] Para propósitos missionários ou aquela mãe que perdeu o filho e no auge do sofrimento tatua o nome da criança para lembrá-lo para sempre, etc.
[4]http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI132738-17770,00-CONHECA+A+HISTORIA+DA+TATUAGEM.html
[5] Basta fazer uma rápida pesquisa na internet ou em revistas especializadas que o leitor encontrará esses símbolos e seus significados. Ex: https://noticias.terra.com.br/brasil/policia/pm-desvenda-significados-de-tatuagens-no-mundo-do-crime,7b4bfce66b23b410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html
[6] O uso dessas coisas em si não é pecaminoso, porém devido aos desvios e a leitura da sociedade é recomendado que o cristão são seja dado a essas coisas e principalmente não participe na mesa dos ímpios no uso público. O não se dominar revela imaturidade e desqualificação ao ministério cristão, aquele irmão que é dado a essas coisas não pode exercer o presbiterado e nem um tipo de liderança pública na igreja. 

6 comentários:

  1. artigo relevante além de estudá-lo repassarei para nossa igreja. parabéns....Pr. DJunior

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  2. Palavras sábias, ousadas e, mais importante, bíblicas. Obrigado pr. Glauco pela contribuição a nós pastores que sempre lidamos com esse assunto em nossas igrejas. Deus o abençoe.

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  3. Muito bom, pastor Glauco! Que o Senhor continue a te usar!

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  4. Muito bom pastor! Somos habitação do Espírito e não convém depreciar sua casa! Abraços!

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  5. Ótima análise. Lerei em partes para refletir melhor. Assim que eu concluir deixarei um novo comentário por aqui. Deus abençoe, pastor.

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