Introdução:
Nos últimos anos a tatuagem deixou de ser um
assunto periférico ao cristão e passou a ser um problema a ser discutido. Isso
se dá porque aumentou consideravelmente a propaganda, seja por meio dos
tatuadores ou de pessoas famosas, e também tem crescido o número de jovens em
nossas igrejas aderindo a essas marcas no corpo. Ao mesmo tempo em que cresce
essa prática há um certo receio ou medo em líderes cristãos em se posicionar,
pois qualquer posicionamento causará reações, seja de um lado ou de outro. Bom!
Como já é do conhecimento dos meus leitores não sou de ficar em cima do muro,
minha personalidade conservadora não me permite, me deixando em maus lençóis
com aqueles mais moderados e liberais. É preciso dizer também que não estou
fechado nessa questão, posso ser convencido pelas Escrituras ou pelo senso
comum de que estou equivocado e, ainda tenho refletido em relação a “tatuagem
inocente”[1]
como uma possível exceção. Mas, vamos entrar na brecha e instigá-los nessa
questão.
1. Breve História – para o pressuposto histórico/antropológico
Segundo
as informações do Wikipédia há “provas arqueológicas que afirmam que as
tatuagens foram feitas no Egito entre 4000 e 2000 a.C. e também
por nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia (maori),
que tatuavam-se em rituais ligados a religião”.[2]Também
é relatado que o pai da tatoo “foi o capitão James Cook (também descobridor do surf), que escreveu em
seu diário a palavra "tattow", também conhecida como "tatau"(era
o som feito durante a execução da tatuagem em que se utilizavam ossos finos
como agulhas e uma espécie de martelinho para introduzir a tinta na pele)”. Com
a circulação dos marinheiros ingleses a tatuagem e a palavra tattoo entraram
em contato com diversas outras civilizações pelo mundo novamente. Porém, o governo
da Inglaterra adotou a tatuagem como uma forma de identificação de criminosos
em 1879; a partir daí a tatuagem ganhou uma conotação de fora da lei no ocidente”.
Tanto pelo uso, bem como pela a adoção em grupos marginalizados, a tatoo passou
a ser um símbolo de identificação cultural em todos os lugares do ocidente. No
oriente ainda é possível encontrar significados símbolicos mais tribais e
ligados a família, casamento, etc; mesmo que em alguns casos ainda encontramos
símbolos religiosos.
Segundo
um dos sites mais importantes de tatoo, o “Mundo das Tatuagens: “A tatuagem
surgiu primeiramente entre tribos e clãs, como fator distintivo de grupo.
Estima-se que isso ocorreu há pelo menos 3500 anos atrás. Inclusive, foi comprovada uma tatuagem em uma múmia do século VII dos nossos tempos e
há ainda quem diga que é um sintoma da modernidade. Depois, com as evoluções
sociais e da própria tatuagem a marca passou a ser o que é hoje; ou seja, mais
uma expressão da personalidade, uma marca particular do indivíduo”. Essa
expressão da personalidade representa: “transformar-se em guerreiro;
tornar-se sacerdote; tornar-se rei; casar-se; celebrar a vida;
identificar os prisioneiros; pedir proteção ao imponderável;
garantir a vida do espírito durante e depois do corpo”.[3]
Na
revista Galileu temos alguns estudos que identificam a tatuagem como: “o uso
para identificar bandidos e enfeitar poderosos; para juntar tribos e afugentar
inimigos; para mostrar preferências e esconder imperfeições” e a mesma revista
traça um panorama histórico revelando que:
“Entre
2160 e 1994 a.C. múmias de mulheres egípcias, como a Amunet, possuíam traços e
inscrições na região do abdômen; Entre 509 e 27 a.C, os imperadores romanos
determinavam que para não serem confundidos com súditos mais bem afortunados; prisioneiros
e escravos deveriam ser tatuados; Em 1600 com o fim das guerras feudais no
Japão, os serviços dos samurais tornaram-se desnecessários. Surge, então, a
Yakuza, a máfia japonesa; Em 1769 na expedição à Polinésia, o navegador inglês
James Cook nota a tradição local de marcar o corpo com tinta. Na língua local,
chamavam isso de "tatao"; Em 1942 durante a Segunda Guerra, os
nazistas tatuavam um número no corpo dos judeus para identificá-los como
prisioneiros nos campos de concentração”.[4]
Em outras
pesquisas como nos sites: remoção de tatuagem, mundo estranho, Brasil escola e
outros com menos importância iremos encontrar relatos demonstrando que a
história da tatuagem sempre esteve e ainda está relacionada com práticas como
símbolos religiosos, marcas de prisioneiros, algo relacionado a sensualidade ou
outras marcas pagãs e rebeldes. Essas histórias são descritas por historiadores
e pesquisadores não cristãos, por isso não há preconceito e muito menos
intenções ilegítimas em seus relatos.
A
história da tatuagem é importante para nossa reflexão cultural e simbólica,
pois “aquele que não aprende com a história tende a errar duas vezes” e a
história revela o propósito e razão de ser das coisas na sociedade.
2. Refutando possíveis argumentos:
Tenho
ouvido alguns argumentos em defesa da tatuagem, esses argumentos são
encontrados em placas, vídeos na internet e em conversas com pessoas que
aderiram a moda. O meu espanto é que encontrei cristãos em vídeos no youtube e
pelo menos três que me questionaram pessoalmente utilizando os mesmos
argumentos. Assim gostaria de expor os argumentos e refutá-los:
I - O primeiro argumento que gostaria de refutar é: “em tempos
passados a tatuagem era uma marca rejeitada pela cultura, porém houve mudanças,
pois as culturas mudam e agora a tatuagem se tornou algo aceitável e bem
visto”.
Resposta - De fato, há mudanças culturais. Em relação a essas
mudanças culturais precisamos ser sensíveis e coerentes com o fato de
acontecerem alterações devido a mudanças filosóficas e do tempo. A questão é se
um cristão pode aceitar essas mudanças simplesmente, sem questionar e criticar.
Não seria cristão aceitar essas mudanças sem considerar os motivos e razões das
mesmas. O cristão é um indivíduo que foi transformado pelo Espírito e possui a
mente de Cristo, por isso como cidadão do Reino ele deve analisar e refletir se
as alterações culturais foram promovidas pela presença redentora do Reino ou
são alterações que exaltam a corrupção humana, a rebeldia do homem caído e a
ofensa ao evangelho.
Os tatuadores
tentam convencer sem argumentos que sua profissão é uma arte hoje em dia e não
há nada de ruim; mas um verdadeiro cristão precisa perguntar: “em que a
tatuagem glorifica a Deus”? ela promove a beleza da Pessoa de Cristo? Essa
marca no corpo promove o Reino, a pureza e santidade; promove o evangelho;
contribui com a Missão e ainda, é uma marca que torna a pessoa mais semelhante
a Cristo ou ao mundo?
II - O segundo argumento mais usado é aquele que fotografei na maior
loja de tatuagem da minha cidade e o mais usado entre cristãos na internet: “Não
interessa o que a sociedade pensa”.
Essa
filosofia de vida é um ultraje ao pensamento cristão. Primeiro porque agride o
segundo mandamento: “amarás ao teu próximo” e depois porque não aprendemos
assim do Apóstolo inspirado: “E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu
irmão, nunca mais comerei carne,
para que não venha a escandalizá-lo” (1Cor 8.13). Paulo bem sabia que o ídolo
em si e as comidas sacrificadas não significam nada, a tatuagem em si também
não significa nada, porém se ao próximo isso é tropeço “nunca mais comerei”.
Sabemos que pela história contada acima, a tatuagem é um escândalo no mundo,
quanto mais a um cristão que “não é deste mundo”. Por essa razão, o cristão
deverá considerar o que dizem, qual a leitura é feita das marcas que ele carrega
no corpo. A tatuagem é tão mundana que as instituições não cristãs repudiam e
recentemente um homem para ser aceito precisou entrar com recurso na justiça.
Nem o próprio mundo sem Cristo considera aceitável. No mínimo, a tatuagem traz
desconforto na sociedade e nas Igrejas de Deus.
Alguns
pregadores argumentam que o uso da tatuagem não é pecado, mas é resultado de
“falta de sabedoria”. Esse argumento diminui a importância da discussão sobre o
assunto ou acaba deixando no campo do fórum íntimo, pois não podemos viver
pensando no mais fraco ou naquilo que é escândalo ao mundo. Quando a questão é
um assunto absurdo ou sem prejuízos creio que não devemos ficar presos a
consciência do mais fraco, porém quando se trata de práticas que de fato
escandalizam e simbolizam coisas pagãs, sensuais e algo tão sério como
rebelião, como é a tatuagem, precisamos refletir. (1Cor 8)
3. Pensando bíblicamente
Praticamente
todos os cristãos confessos declaram que a Bíblia é a regra de fé, prática,
governo e disciplina; porém alguns não seguem essa confissão na prática. Quando
as regras não se ajustam aos seus desejos ou quando precisam de respostas
imediatas, a Bíblia deixa de exercer autoridade. Achei curioso quando li um
teólogo liberal afirmar que o problema não está na Bíblia; sua autoridade,
revelação sobrenatural, verdade, etc. Ele diz: “pessoas modernas querem viver
suas vidas, o que significa fazer as próprias regras, tomando um rumo pela vida
de escolha própria”. (Don Cupitt)
Se o ser
humano não se render à autoridade das Escrituras, seu conhecimento de Deus e
suas decisões da vida serão tiradas da experiência e da sua própria cultura; o
indivíduo será acomodado a cultura e se tornará refém de si próprio ou de algum
sistema absurdo de vida. Seguir a Bíblia, seja no que é claramente revelado ou
naquilo que é deduzido dela nos permite conhecer a Cristo, imitá-lo e assim
resgatar o propósito de Deus para sua criação. É através de Cristo e Sua
Palavra que nós formamos uma “mente evangélica” (Mark Noll) e essa filosofia é
a singularidade da cosmovisão cristã.
Encontramos
nas Escrituras alguns textos que deveriam ser nossa regra de vida. Todos os
pensamentos e decisões de um cristão precisam considerar esses textos como
fundamentais:
I – 2Cor 3.2. “Vós sois a nossa carta, escrita em nosso
coração, conhecida e lida por todos os homens...”. Algumas pessoas precisam de
cartas de recomendação, pois suas vidas não são conhecidas, mas aqueles que são
frutos do ministério apostólico suas vidas são para si mesmos uma carta. É fato
que as pessoas ao nosso redor estão olhando para nós como uma carta. Para
aqueles que convivem conosco basta nosso coração para que percebam Cristo em
nós. A pergunta é: como os de fora irão nos ler quando olharem para nós e sem
convivência para interpretar, como interpretarão as marcas em nosso corpo. É
essa leitura externa que a sociedade em geral faz, razão que justifica um
policial militar questionar todas as pessoas na revista, se tem tatuagem ou
não; por que fez? E onde fez? As pessoas nos associarão a Cristo ou ao mundo
(prisioneiro, heavy metal, punk, etc).
A
tatuagem é uma poderosa forma de comunicação. O objetivo daquele que marca o
corpo é comunicar alguma mensagem através de si mesmo, tendo como fonte de
escrita seu próprio corpo. Talvez o que me chama mais a atenção e não concordar
plenamente com aqueles pregadores que somente dizem ser “falta de sabedoria”
seja a questão da comunicação cultural. Já ouvi alguns pastores e tatuadores cristãos
argumentarem defendendo um sincretismo cultural; ou seja, não havendo nenhum
versículo claro sobre isso ou não fazendo nada de mal a ninguém está liberado. Esses
irmãos tentam relativizar os símbolos culturais e se apegar as mudanças da
cultura. Porém, o sincretismo cultural afeta diretamente a questão da
comunicação cultural, afetando o testemunho do evangelho na prática de uma vida
cristã mais parecida com o mundo do que com Cristo e Sua Igreja. A tatuagem não
faz parte da cultura cristã e não é neutra em sua simbologia cultural; sendo
assim, é uma coisa que comunica uma mensagem na cultura.
Como foi
demonstrado no capítulo 1 em nossa análise histórica, a tatuagem é um símbolo
com significados específicos e nunca na história da humanidade e nem da Igreja esse
símbolo foi associado a Deus e aos cristãos. São símbolos culturais que
significam rebeldia, culto ao corpo, ídolos pagãos, marcas de alguma facção ou
tribo urbana; protesto contra hierarquia ou sistema de autoridade,
sensualidade, entre outros. Até mesmo dizeres religiosos, como o nome de Jesus
e versículos se tornaram símbolos do sistema penitenciário.[5]Pergunto: Quando
as pessoas lerem seu corpo, através daquilo que ele comunica em suas tatuagens,
elas te associarão a Cristo? Você estará neutro em uma interpretação que a
sociedade fará nas marcas do seu corpo? O sincretismo cultural não conseguirá
consistência bíblica e antropológica para defender o uso da tatuagem para um
cristão. Meu irmão, você é a carta lida por todos os homens!
Não seria
interessante aqui considerar os textos que dizem: “Fugi de toda aparência do
mal” (1Ts 5.22)? ou “Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as
coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É
bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que
teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. A fé que tens,
tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena
naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o
que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado”? (Rm
14.20-23)
II – 1Cor 10.31. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais
outra coisa qualquer, fazei tudo para a
glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para
gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em
tudo, ser agradável a todos, não
buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos”.
Uma
pessoa me procurou e disse: “pastor me dê uma razão para não fazer uma
tatuagem”. Pensando nesse texto respondi: “como evangélico você precisa mudar a
pergunta; os católicos seguem o “princípio do silêncio das Escrituras”, ou
seja, o que a Bíblia não diz claramente eu posso fazer. Porém os protestantes
reformados seguem o “princípio da regra de fé e prática”, ou seja, eu somente
posso fazer aquilo que agrada a Deus, o que o Criador revelou sobre mim. Então,
a pergunta seria: “Há alguma razão em que a tatuagem glorifica a Deus?” Eu estou
interessado na glória de Deus ou simplesmente desejo marcar meu corpo porque é
legal ou porque “todo o mundo faz?” Será que glorifica ao Criador eu me
associar a uma prática que historicamente não é cristã e ainda a história
revela que seus propósitos sempre estiveram ligados ao culto pagão, sexualidade
liberal, máfias, tribos urbanas, etc. Ainda aguardo uma resposta bíblica que
justifique a glória de Deus na tatuagem. Radical né? Pois é! Essa é a razão de
alguns abandonarem a Cristo e seguir o “presente século” (2Tm 4.10), o desejo
de se ajustar aos padrões desse mundo.
III – “Não sabeis que sois santuário
de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o
santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1Cor 3.16-17). Há duas
expressões no texto que chamam a atenção; primeiro “sois santuários” e depois
“é sagrado”. O Apóstolo está chamando a atenção sobre o modo como estamos
edificando nossa vida. A exortação acontece em um contexto em que a igreja foi
influenciada pelo mundanismo de Corínto; imoralidade, idolatria, partidarismo,
sabedoria deste mundo, etc. Por essas razões, foi preciso escrever demonstrando
que se de fato são de Cristo, eles não poderiam viver “além de Jesus Cristo”
(v. 11), “porém cada um veja como edifica”. O fato do Espírito de Deus habitar
em nós garante que não podemos nos associar ao estilo de vida não cristão,
somos separados para uma vida consagrada, diferente e não mais na própria
sabedoria. Não podemos nos dar ao luxo de desfrutar das “coisas vãs” (1Cor 3.20-21)
e nem fazer o que é próprio do homem sem Cristo. “Somos dele”!
IV - 1Cor 6.20. “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é
santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque
fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo”.
Querido irmão, vosso corpo é sagrado. Não sois de vocês mesmos para marcá-lo
como se tivesse a liberdade para se escravizar ao mundo não cristão. Agora em
Cristo Jesus somos marcados pelo sofrimento da perseguição pelo fato de não nos
conformarmos com esse sistema anticristão. Não carregamos no corpo qualquer
outra marca “para nos gloriarmos na carne” (Ef 6.13), porém nossa esperança é
carregar as marcas de Cristo ((Ef 6. 17). Não nos apresentamos ao mundo,
mostrando as marcas desenhadas por um tatuador pagão, mas nos apresentamos a
Deus como um culto e cada vez mais parecidos com Cristo, nosso Senhor (Rm
12.1-4).
V – Nossa União com Cristo. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a
minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a
terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as
palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êx 19.5-6); “Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo
de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz...” (1Pe 2.9).
As
expressões “no Senhor”, “nele” ou “em Cristo” ocorrem 164 vezes nas cartas de
Paulo. Por isso, ele diz: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus,
que me amou e a si mesmo se entregou por mim...” (Gl 2.20). A nossa União com
Cristo determina como devemos ser e as ideias e formas de viver na sociedade.
Por Cristo sou liberto do sistema, seja da secularização ou do sincretismo com
todas as suas sutilezas e promessas de sucesso e orgulho próprio. Em Cristo
podemos oferecer ao mundo uma proposta de vida e de religião que promovem a
verdadeira comunhão com Deus, felicidade, justiça e sabedoria. Isso se chama REDENÇÃO. “No Cristo crucificado é que
estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus”. (Lutero)
VI – 2Cor 1.12. “Porque a nossa glória é esta: o testemunho
da nossa consciência (συνείδησις), de que com santidade e sinceridade de Deus, não
com sabedoria humana, mas, na graça divina, temos vivido no mundo e mais
especialmente para convosco”. Nossa consciência não está fundamentada na
libertinagem do que “faço o que quero” ou escrava dos símbolos cravados na
tatuagem, não e não! Esse texto nos orienta nessa questão. Vivemos em novidade
de vida, com uma consciência cativa a palavra de Cristo e firmada pelos
fundamentos da cosmovisão cristã e como cremos na suficiência e autoridade das
Escrituras somos guiados pela filosofia reformada.
VII – Rm 11.36. “Porque todas as coisas são dele, por ele e
para ele. A ele seja a glória eternamente! Amém”. Pv 16.4. “O Senhor fez todas
as cousas para determinados fins...”. 1Cor 7.31. “e os que se utilizam do
mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa”.
Há uma
regra cristã muito importante a ser considerada nessa questão. É o princípio
correto no uso das coisas que Deus criou. A Bíblia nos orienta devidamente
sobre a finalidade das coisas e como deveríamos usá-las, isso para a revelação
dos ímpios e o louvor dos justos. Os ímpios deturpam todas as coisas e os justos
contemplam as belezas e desfrutam dos prazeres das coisas criadas.
Cada
coisa foi feita para um fim proveitoso, na prática vê-se que a natureza revela
seu propósito nas próprias qualidade naturais que demonstram e os benefícios
para a vida e para a glória do Criador. Assim pelas Escrituras e pela razão
natural sabemos as finalidades de todas as coisas (ou quase todas) que existem
e assim desfrutamos com sabedoria e obediência, caminhando sem apego para o
Reino futuro do Nosso Senhor.
Por essas
razões, concluo a reflexão desses três versículos, perguntando: historicamente,
qual o propósito/finalidade da tatuagem? Para que essa coisa passou a existir?
O corpo humano foi feito para ser marcado por uma incisão voluntária? A
tatuagem promove benefícios à vida? É necessária a existência humana e a
qualidade de vida? Promove a beleza de Cristo? Quais as qualidades naturais que
a tatuagem demonstra para que ela tenha um fim proveitoso e glorifique a Deus?
Naquilo
que de fato glorifica a Deus podemos dar razão, como muito claramente nos
explica o Prof. João Calvino: “Ora, se ponderarmos a que fim Deus criou os
alimentos, verificaremos que ele quis levar em conta não só a necessidade, mas
também o deleite e gáudio; assim, na indumentária, além da necessidade, foi seu
propósito fomentar o decoro e a dignidade; nas ervas, árvores e frutas, além
dos variados usos, proporciona a beleza da aparência e a suavidade do perfume.
Ora, a não ser que isso fosse verdadeiro, o Profeta não contaria entre as
beneficências de Deus “o vinho que alegra o coração do homem”, “o óleo lhe faz
resplandecer o rosto” [Sl 104.15]; nem estariam as Escrituras, a fim de
enaltecer-lhe a benignidade, relembrando a cada passo que ele deu aos homens
todas as coisas desse gênero”. (Inst, III, X, 2)
O ímpio
deturpa o uso das coisas criadas e promove outro fim que não é proveitoso: o
sexo foi feito para o casamento (adultério); o esporte para a saúde e alegria
(UFC); a música para expressar louvor e alegria (Black Metal, Funk, Punk); a
religião para comunhão com Deus (idolatria); a consciência para a liberdade de
expressão (revolução); a política para a ordem e justiça (injustiça,
corrupção); o livre comércio para o direito de propriedade, generosidade e o
dom da riqueza (socialismo, egoísmo). O vinho que foi feito para a alegria se
tornou na cultura brasileira uma desgraça, a cerveja produzida pelos monges e
um ótimo diurético se tornou uma destruidora de famílias. Todas essas coisas
foram feitas para a glória do Criador, mas são corrompidas pelo uso não
cristão, daí a necessidade de redenção e da prudência em relação ao vinho e
cerveja por causa do testemunho.[6] O corpo
não foi feito para a tatuagem e a tatuagem não foi feita para o cristão.
Acredito
que considerar o fim de todas as coisas é uma boa e sábia filosofia de vida e
ter como fundamento a dedução das Escrituras em assuntos não claros é agradável
ao Senhor e um prazer de sua soberania.
4. O novo crente e sua antiga tatuagem
Não vejo
muitos problemas em relação ao novo crente, talvez apenas um texto já nos
orienta: Atos 17. 30-31 - “Ora, não levou Deus em conta os tempos da
ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se
arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com
justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos,
ressuscitando-o dentre os mortos”. Nossa antiga vida era guiada pelo “príncipe
deste século” (Jo 16.11; 2Cor 4.4) que operava em nós (Ef 2.2), agora
regenerados pelo Espírito (Ef 2.1; 2Cor 5.17) recebemos nova vida e andamos
segundo Cristo e estamos em transformação para que a cada dia sejamos mais
parecidos com Ele (Rm 8.14,28-29). Por essas razões, as marcas do velho homem
com toda aparência do mundo cravada no corpo se tornou um testemunho de redenção
e um meio para que, através dessas marcas o novo crente possa testemunhar em
palavras de sua conversão.
É claro
que no primeiro momento o novo crente será associado a antiga vida, porém
algumas marcas do passado são incorrigíveis. Isso não deve deixá-lo
constrangido ou desanimado, mas com o coração redimido e interessado em pregar
o evangelho, ele deverá usar essas marcas como oportunidade de fazer o Cristo
libertador conhecido em todos os grupos da sociedade.
Agora,
convertido e crente ele deverá andar como crente, fazer as coisas de crente e
como crente ser parecido com aquele que ele crê. “Se o mundo vos odeia, sabei
que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o
mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário,
dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia”. (Jo 15.18-19)
5. Jesus Cristo tem tatuagem?
Tenho
ouvido algumas pessoas desinformadas usarem um argumento “bíblico” para
defender o uso da tatuagem. O argumento é baseado no texto de Apocalipse 19.16:
“Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS
SENHORES”.
Refutação bíblica: Um antigo ditado diz: “Um texto fora de
contexto é pretexto para heresia”. Considerando as regras de interpretação e o
contexto é preciso considerar duas coisas: em primeiro lugar o versículo
anterior e posterior revelam que a linguagem é simbólica. O versículo 15, diz:
“Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações...”. Seria
possível alguém acreditar que literalmente sai uma espada de aço ou de ferro da
boca de Jesus? Acho que nem no circo alguém acreditaria nisso. É um símbolo que
representa o juízo de Deus pela Palavra. Em segundo lugar, símbolo cravado na
coxa ou em uma tradução mais literal; “nas vestes sobre a coxa”, é uma
demonstração simbólica de soberania, controle e governo sobre tudo e todas as
nações. Nos versículos posteriores encontraremos sua soberania na guerra contra
os poderes do Maligno e os Reis que se acham poderosos.
Em nenhum
momento há evidência de ser uma marca física literal, também é preciso
considerar que o texto descreve o Jesus vitorioso, juiz e não é um texto
normativo, doutrinário que autoriza os cristãos a marcarem seus corpos,
seguindo o exemplo dos pagãos. Não e não!! O texto não fala sobre tatuagem e
muito menos oferece um salvo conduto para o cristão se parecer com o mundo.
As únicas
marcas no corpo que Nosso Senhor carrega são as marcas físicas da cruz. Ele foi
definitivamente cravado pelos nossos pecados, moído e marcado para que como
cordeiro de Deus tirasse nossos pecados e assumisse nosso lugar de condenação e
morte. Jesus é tatuado sim, com as marcas do sofrimento e agonia; as marcas da
paixão. Não foi e não será cravado pelas agulhas de uma filosofia de vida pagã,
rebelde e mundana; pois todas essas coisas se tornaram malditas nele para nossa
libertação e novidade de vida. A cruz continua sendo maldita e uma lembrança de
que lá Ele levou sobre si nossas transgressões. A cruz de Cristo é a única
marca física que o Senhor levará para sempre sobre si.
Conclusão:
1Cor 6.12. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm.
Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma
delas”. Mediante todas as informações históricas e reflexão bíblica eu concluo
que a tatuagem é incompatível com a fé cristã. Não creio que convém a um servo
de Cristo se deixar dominar por essa prática pagã. De minha parte, não me
deixarei dominar por coisas que não edificam a igreja e muito menos por aquilo
que pode constranger ou escandalizar o evangelho. Prefiro me guardar de
qualquer prática que está diretamente associada aos grupos ilegais de
prisioneiros, as tribos urbanas, máfias japonesas ou até mesmo a aqueles jovens
que se rebelam contra os pais, pastores e autoridades civis. O mesmo princípio
e reflexão bíblica eu aplico para a maçonaria, ingerir publicamente bebida
alcoólica, festa de halloween e junina, uso de drogas e outras coisas
impiedosas.
Finalmente,
aos meus leitores e amigos, tatuados ou não; meu amor, carinho e todo o
respeito que lhe são dignos. Nunca faltarei com respeito e cordialidade a
qualquer pessoa que seja. Somente a Deus toda a glória!
[1] Para propósitos missionários ou
aquela mãe que perdeu o filho e no auge do sofrimento tatua o nome da criança
para lembrá-lo para sempre, etc.
[2]
In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tatuagem.
Em 18/10/2016
[3] In: https://mundodastatuagens.com.br/historia-da-tatuagem/.
Em 18/10/2016
[4]http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI132738-17770,00-CONHECA+A+HISTORIA+DA+TATUAGEM.html
[5] Basta fazer uma rápida pesquisa na
internet ou em revistas especializadas que o leitor encontrará esses símbolos e
seus significados. Ex:
https://noticias.terra.com.br/brasil/policia/pm-desvenda-significados-de-tatuagens-no-mundo-do-crime,7b4bfce66b23b410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html
[6] O uso dessas coisas em si não é
pecaminoso, porém devido aos desvios e a leitura da sociedade é recomendado que
o cristão são seja dado a essas coisas e principalmente não participe na mesa dos
ímpios no uso público. O não se dominar revela imaturidade e desqualificação ao
ministério cristão, aquele irmão que é dado a essas coisas não pode exercer o
presbiterado e nem um tipo de liderança pública na igreja.
artigo relevante além de estudá-lo repassarei para nossa igreja. parabéns....Pr. DJunior
ResponderExcluirPalavras sábias, ousadas e, mais importante, bíblicas. Obrigado pr. Glauco pela contribuição a nós pastores que sempre lidamos com esse assunto em nossas igrejas. Deus o abençoe.
ResponderExcluirMuito bom, pastor Glauco! Que o Senhor continue a te usar!
ResponderExcluirMuito bom pastor! Somos habitação do Espírito e não convém depreciar sua casa! Abraços!
ResponderExcluirÓtima análise Pr. Glauco! Parabéns!
ResponderExcluirÓtima análise. Lerei em partes para refletir melhor. Assim que eu concluir deixarei um novo comentário por aqui. Deus abençoe, pastor.
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