5 de setembro de 2012

Culto Evangélico (Liturgia)


“... Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto”.  Mt 4.10 (NVI)

Introdução:
Um dos temas mais debatidos hoje em dia é o culto. As controvérsias, divisões e a rejeição das heranças recebidas de nossos pais da fé têm criado muitos problemas para a Igreja, bem como para a espiritualidade evangélica em geral.
As discussões são desenvolvidas sobre as perguntas: O que deve ser aceito no culto, qual o papel do homem, até que ponto somos livres para expressar nossas emoções, será possível algum entretenimento no culto público, etc?
Todos esses assuntos sugerem um trabalho mais detalhado, porém isso não é possível nesse breve artigo. Meu desejo é apenas contribuir um pouco com essa reflexão e instigar interesse pelo assunto naqueles que não dedicam tempo para pensar na questão do culto a Deus.
Percebe-se que em alguns lugares o culto a Deus (Mt 4.10), tem sido substituído por reuniões de interesses comunitários ou de poder. Ex: reunião de campanhas, libertação, empresários, milagres, busca por prosperidade e votos, reuniões, reuniões e reuniões... .
Também é notório que grupos tem se afastado conscientemente do cristianismo histórico. O pós-modernismo tem sido um desafio constante para a reflexão do culto, pois o exagero da busca por relevância tem produzido novas igrejas e cultos “mundanizados”, secularizados e sem absolutos bíblicos e estruturas formais, o Deus de ordem tem sido confundido com um deus de confusão. É muito visível o desinteresse em seminários, onde são raros os cursos com Teologia do Culto, é difícil compreender como um assunto tão sério e essencial na vida cristã pode ser tão negligenciado.

Por tudo isso é que pretendo contribuir com uma breve reflexão pastoral sobre o culto e a necessidade de retornarmos a Bíblia como a regra que determina um culto agradável a Deus.

Deus quer que sejamos verdadeiros adoradores (Jo 4.23-24), e esta adoração pode ser individual ou coletiva. Na adoração em grupo (o culto público) estaremos honrando ao Senhor e também crescendo espiritualmente. O culto a Deus é a principal atividade do Povo de Deus e o mais elevado motivo da missão da Igreja. Deus se encontra com o povo da aliança no culto.

O Senhor de todas as coisas tem chamado todos os povos a adoração, seja ela como estilo de vida ou celebração pública em comunidade (1Cor 11). Mesmo sendo a vontade de Deus o culto; é revelado nas Escrituras que o Único Deus não aceita qualquer tipo de culto, ainda que seja sincero e com amor.
A Bíblia ensina que diferente dos deuses pagãos o Deus de Israel (Igreja), tem estabelecido desde muito tempo, princípios que revelam o tipo de culto que o agrada. A rejeição de Deus por certos cultos podem ser encontradas em textos como Êxodo 20; Êxodo 32 “... Amanhã haverá uma festa dedicada ao SENHOR”; 1Samuel 2; 1Coríntios 14.33; Colossenses 2.18.

O culto requerido após o desenvolvimento progressivo do povo de Deus é um culto em espírito e verdade, ou seja uma vida pela fé no Filho de Deus, onde se expressa a confiança plena em Deus e obediência a Sua Palavra. Não um culto por vistas ou de acordo com nossas vontades, mas um culto que somente o agrade – Soli Deo Glória!

Para que possamos honrar nosso Deus, nossas experiências de adoração contribuam para melhorar a comunhão com Ele, elas devem nos levar a experimentar Deus de forma real e pessoal.

“O culto cristão é o ato mais importante, mais relevante, mais glorioso na vida do homem” (Karl Barth).

“... Em essência o culto é um encontro de Deus com seu povo no qual se estabelece um diálogo: Deus fala à sua Igreja através de sua Palavra e a congregação expressa sua adoração ao Senhor mediante as orações, ofertas e hinos de louvor” (Víctor M. Sandoval Garcia).

O culto é uma devoção e consagração ao único e verdadeiro Deus, é a resposta do povo da aliança ao amor e atos do Criador.

Não há culto sem ordem (liturgia), pois o próprio Senhor estabelece as bases de uma adoração que o agrada, por isso é importante entender o que é liturgia e sua forma bíblica.
A liturgia é o serviço religioso de adoração a Deus, onde o povo em comum acordo estabelece o lugar e o tempo que será dedicado a esse serviço a Deus. Apesar da Bíblia não revelar uma liturgia definida, a mesma oferece princípios que devem ser observados na adoração comunitária:

a)      Oração – At 1.14, 2.42, 3.1.
b)     Confissão – Rm 10.9-11; Tg 5.16.
c)      Louvor (Hinos) – Lc 24.53; At 2.47; Cl 3.16.
d)     Instrução (pregação) – Lc 4.16; At 13.15; 2Tm 4.2.
e)      Contribuição – Lc 21.1-4; Rm 15.26; Hb 7.1-9.

 Esses elementos são essenciais, pois estão claramente revelados nas Escrituras, alguns aspectos são cumpridos em Jesus e não é necessário sua permanência no N.T, porém os ideais do A.T permanecem sem alterações. No N.T percebe-se também uma descontinuidade no aspecto sacrificial e simbólico do A.T, pois diferente do templo com seus rituais e imagens representativas, agora Jesus requer somente espírito e verdade (fé). Tanto individualmente como coletivamente o culto é algo desejável para aqueles que amam a Deus. A vida do cristão é um culto a Deus, pois tudo que faz é para a glória Dele - 1Cor 10.31; Rm 12.1-2.

Alguns Puritanos chegaram a pensar em elementos não essenciais, é muito característico de Richard Baxter com sua preocupação pastoral escrever um livreto sobre isso. Ele trata de aspectos não essenciais quando fala de objetos que ornamentam a Igreja, posição de bancos, gazofilácio, etc. Os ornamentos do local de culto e até mesmo a posição geográfica do mesmo é irrelevante na discussão, pois não participam ativamente na adoração, é questão de gosto e cultura. Todos esses aspectos exigem ordem e decência.

Os únicos elementos visíveis que estão ativamente ligados ao culto são a água do batismo e pão e vinho da ceia do Senhor. Estes elementos simbólicos, mas reais e verdadeiros são ordenados por Cristo e sacramentos para benefício espiritual da comunidade, acompanhando sempre a Pregação da Palavra de Deus e a aplicação do Espírito Santo.

Porém o culto público ou comunitário oferece um momento de comunhão, onde a Igreja de Deus reunida coloca o Senhor como o centro das atenções e objeto de suas homenagens, gratidões e outras expressões de adoração. Por isso é que se diz que na reunião o Senhor ordena a benção (Sl 133).

Também é na comunhão dos filhos de Deus que se estabelece crescimento espiritual através da Palavra e do Espírito, o culto desenvolve aquela comunhão responsiva, onde Deus chama e fala e o povo responde com a vida e serviço.
Diante de todas essas informações bíblicas podemos exortar a algumas atitudes para um bom culto e para a glória de Deus:
1)      Não deixe de congregar – Hb 10.25.
2)      Estimule o amor e as boas obras – Hb 10.24.
3)      Alguêm pode estar orando, faça silencio.
4)      Não despreze o batismo e a ceia do Senhor.
5)      Cante de todo o coração e ofereça o melhor no altar de Deus.
6)      Não participe desprevenido, sua oferta e dízimo são partes do culto a Deus.
7)      Deseje a comunhão e ser um testemunho das promessas de Deus.
8)      Deus é o centro e não as pessoas ou as circunstâncias da vida.
9)      Interceda pelos irmãos.
10)   Seja sensível para ouvir a voz do Senhor pela Palavra lida e pregada.

Conclusão:
O culto evangélico deveria ainda em nossos dias e para sempre ser conduzido pela Palavra de Deus. É por essa Palavra e pelo Espírito que Jesus Cristo nos governa e guarda na Salvação e na Adoração.
Poderíamos aprender com nossos irmãos reformadores que em 1528 escreveram uma bela declaração de fé sobre isso: “A santa igreja cristã, cujo único cabeça é Cristo, nasce da Palavra de Deus e permanece na mesma, e não ouve a voz de um estranho”. (As dez conclusões de Berna)
A igreja evangélica que coloca a Palavra de Deus em segundo plano, vai se afastando do puro evangelho e do compromisso verdadeiro com o Senhor Jesus Cristo.   

Deus seja louvado para sempre!!!

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