Introdução:
Um dos temas mais debatidos hoje em dia é o culto. As
controvérsias, divisões e a rejeição das heranças recebidas de nossos pais da
fé têm criado muitos problemas para a Igreja, bem como para a espiritualidade
evangélica em geral.
As discussões são desenvolvidas sobre as perguntas: O
que deve ser aceito no culto, qual o papel do homem, até que ponto somos livres
para expressar nossas emoções, será possível algum entretenimento no culto
público, etc?
Todos esses assuntos sugerem um trabalho mais
detalhado, porém isso não é possível nesse breve artigo. Meu desejo é apenas
contribuir um pouco com essa reflexão e instigar interesse pelo assunto
naqueles que não dedicam tempo para pensar na questão do culto a Deus.
Percebe-se que em alguns lugares o culto a Deus (Mt
4.10), tem sido substituído por reuniões de interesses comunitários ou de
poder. Ex: reunião de campanhas, libertação, empresários, milagres, busca por
prosperidade e votos, reuniões, reuniões e reuniões... .
Também é notório que grupos tem se afastado
conscientemente do cristianismo histórico. O pós-modernismo tem sido um desafio
constante para a reflexão do culto, pois o exagero da busca por relevância tem
produzido novas igrejas e cultos “mundanizados”, secularizados e sem absolutos
bíblicos e estruturas formais, o Deus de ordem tem sido confundido com um deus
de confusão. É muito visível o desinteresse em seminários, onde são raros os
cursos com Teologia do Culto, é difícil compreender como um assunto tão sério e
essencial na vida cristã pode ser tão negligenciado.
Por tudo isso é que pretendo contribuir com uma breve
reflexão pastoral sobre o culto e a necessidade de retornarmos a Bíblia como a regra
que determina um culto agradável a Deus.
Deus quer que sejamos verdadeiros adoradores (Jo
4.23-24), e esta adoração pode ser individual ou coletiva. Na adoração em grupo
(o culto público) estaremos honrando ao Senhor e também crescendo espiritualmente.
O culto a Deus é a principal atividade do Povo de Deus e o mais elevado motivo
da missão da Igreja. Deus se encontra com o povo da aliança no culto.
O Senhor de todas as coisas tem chamado todos os povos
a adoração, seja ela como estilo de vida ou celebração pública em comunidade
(1Cor 11). Mesmo sendo a vontade de Deus o culto; é revelado nas Escrituras que
o Único Deus não aceita qualquer tipo de culto, ainda que seja sincero e com
amor.
A Bíblia ensina que diferente dos deuses pagãos o Deus
de Israel (Igreja), tem estabelecido desde muito tempo, princípios que revelam
o tipo de culto que o agrada. A rejeição de Deus por certos cultos podem ser
encontradas em textos como Êxodo 20; Êxodo 32 “... Amanhã
haverá uma festa dedicada ao SENHOR”; 1Samuel 2; 1Coríntios 14.33; Colossenses
2.18.
O culto requerido após
o desenvolvimento progressivo do povo de Deus é um culto em espírito e verdade,
ou seja uma vida pela fé no Filho de Deus, onde se expressa a confiança plena
em Deus e obediência a Sua Palavra. Não um culto por vistas ou de acordo com
nossas vontades, mas um culto que somente o agrade – Soli Deo Glória!
Para que possamos honrar nosso Deus, nossas
experiências de adoração contribuam para melhorar a comunhão com Ele, elas
devem nos levar a experimentar Deus de forma real e pessoal.
“O
culto cristão é o ato mais importante, mais relevante, mais glorioso na vida do
homem” (Karl Barth).
“...
Em essência o culto é um encontro de Deus com seu povo no qual se estabelece um
diálogo: Deus fala à sua Igreja através de sua Palavra e a congregação expressa
sua adoração ao Senhor mediante as orações, ofertas e hinos de louvor” (Víctor
M. Sandoval Garcia).
O culto é uma devoção e consagração ao único e
verdadeiro Deus, é a resposta do povo da aliança ao amor e atos do Criador.
Não há culto sem ordem (liturgia), pois o próprio
Senhor estabelece as bases de uma adoração que o agrada, por isso é importante
entender o que é liturgia e sua forma bíblica.
A liturgia é o serviço religioso de adoração a Deus,
onde o povo em comum acordo estabelece o lugar e o tempo que será dedicado a
esse serviço a Deus. Apesar da Bíblia não revelar uma liturgia definida, a
mesma oferece princípios que devem ser observados na adoração comunitária:
a) Oração – At 1.14, 2.42, 3.1.
b) Confissão – Rm 10.9-11; Tg 5.16.
c)
Louvor (Hinos) – Lc 24.53; At 2.47; Cl 3.16.
d) Instrução (pregação) – Lc 4.16; At 13.15; 2Tm 4.2.
e) Contribuição – Lc 21.1-4; Rm 15.26; Hb 7.1-9.
Esses elementos são essenciais, pois estão claramente
revelados nas Escrituras, alguns aspectos são cumpridos em Jesus e não é
necessário sua permanência no N.T, porém os ideais do A.T permanecem sem
alterações. No N.T percebe-se também uma descontinuidade no aspecto sacrificial
e simbólico do A.T, pois diferente do templo com seus rituais e imagens
representativas, agora Jesus requer somente espírito e verdade (fé). Tanto
individualmente como coletivamente o culto é algo desejável para aqueles que
amam a Deus. A vida do cristão é um culto a Deus, pois tudo que faz é para a
glória Dele - 1Cor 10.31; Rm 12.1-2.
Alguns Puritanos chegaram a pensar em elementos não
essenciais, é muito característico de Richard Baxter com sua preocupação
pastoral escrever um livreto sobre isso. Ele trata de aspectos não essenciais
quando fala de objetos que ornamentam a Igreja, posição de bancos, gazofilácio,
etc. Os ornamentos do local de culto e até mesmo a posição geográfica do mesmo
é irrelevante na discussão, pois não participam ativamente na adoração, é
questão de gosto e cultura. Todos esses aspectos exigem ordem e decência.
Os únicos elementos visíveis que estão ativamente
ligados ao culto são a água do batismo e pão e vinho da ceia do Senhor. Estes
elementos simbólicos, mas reais e verdadeiros são ordenados por Cristo e
sacramentos para benefício espiritual da comunidade, acompanhando sempre a
Pregação da Palavra de Deus e a aplicação do Espírito Santo.
Porém o culto público ou comunitário oferece um
momento de comunhão, onde a Igreja de Deus reunida coloca o Senhor como o
centro das atenções e objeto de suas homenagens, gratidões e outras expressões
de adoração. Por isso é que se diz que na reunião o Senhor ordena a benção (Sl
133).
Também
é na comunhão dos filhos de Deus que se estabelece crescimento espiritual
através da Palavra e do Espírito, o culto desenvolve aquela comunhão
responsiva, onde Deus chama e fala e o povo responde com a vida e serviço.
Diante
de todas essas informações bíblicas podemos exortar a algumas atitudes para um
bom culto e para a glória de Deus:
1) Não deixe de congregar – Hb 10.25.
2) Estimule o amor e as boas obras – Hb 10.24.
3) Alguêm pode estar orando, faça silencio.
4) Não despreze o batismo e a ceia do Senhor.
5) Cante de todo o coração e ofereça o melhor no altar de
Deus.
6) Não participe desprevenido, sua oferta e dízimo são
partes do culto a Deus.
7) Deseje a comunhão e ser um testemunho das promessas de
Deus.
8) Deus é o centro e não as pessoas ou as circunstâncias
da vida.
9) Interceda pelos irmãos.
10) Seja sensível
para ouvir a voz do Senhor pela Palavra lida e pregada.
Conclusão:
O culto evangélico deveria ainda em nossos dias e para
sempre ser conduzido pela Palavra de Deus. É por essa Palavra e pelo Espírito
que Jesus Cristo nos governa e guarda na Salvação e na Adoração.
Poderíamos aprender com nossos irmãos reformadores que
em 1528 escreveram uma bela declaração de fé sobre isso: “A santa igreja
cristã, cujo único cabeça é Cristo, nasce da Palavra de Deus e permanece na
mesma, e não ouve a voz de um estranho”. (As dez conclusões de Berna)
A igreja evangélica que coloca a Palavra de Deus em
segundo plano, vai se afastando do puro evangelho e do compromisso verdadeiro
com o Senhor Jesus Cristo.
Deus
seja louvado para sempre!!!
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