29 de abril de 2013

A Bíblia é Suficiente

Introdução:
Este breve artigo foi adaptado de um sermão pregado na Igreja Cristã Evangélica do Parque das Nações, não houve nenhuma alteração, somente um ajuste para o formato de artigo e um adendo como nota explicativa, pois meus sermões escritos são mais rascunhados do que uma estrutura formal.

Também é necessário dizer que esse sermão foge ao método usado por esse pregador, tenho plena convicção que o melhor método de pregação é a exposição de capítulos e livros da Bíblia, mesmo assim foi tentado ao máximo realizar uma pregação expositivo-temática. Queridos alunos de homilética, aqui se cumpre o que sempre digo: “Talvez se você pregar um sermão temático de dois em dois anos, você obtenha o perdão de Deus” – rsrsrsrsrs! O texto base do sermão foi Mateus 15.1-20 – o momento quando a tradição supera os mandamentos de Deus.
Como nunca antes “na história desse país” as pessoas estão desvalorizando e colocando de lado a Palavra escrita de Deus (Bíblia). Por causa da busca de resultados instantâneos e da super-valorização das emoções e das experiências particulares, a Bíblia tem sido colocada de lado na prática e até mesmo em decisões importantes.
Um Presbítero da igreja encontrou um conhecido que não via à tempos. Quando começaram a conversar o Presbítero perguntou: “Você ainda está naquela Igreja Batista?” O Fulano respondeu: “Não, mudei de igreja, preciso de algo novo, diferente e naquela igreja eles só querem saber de Bíblia, Bíblia e Bíblia”. Por mais cômico que seja e rimos com isso, o caso é sério e muito comum em nossos dias. Gente! As pessoas não querem a Bíblia, querem entretenimento, alegria e bem-estar.
Alguém menos informado e tradicionalista poderia dizer: “Isso é coisa de Pentecostal”. Grande engano! Tenho pesquisado várias denominações que aderiram à ordenação feminina; minha pesquisa é para entender os fundamentos bíblicos/teológicos para essa decisão eclesiástica, porém há grande frustração, pois as bases e argumentações são praticamente todas recebidas do movimento feminista ou do relativismo que envolve algumas igrejas. A Igreja Anglicana, nem se quer consultou a Bíblia para sua decisão em 1992. Algumas Igrejas Presbiterianas e Batistas usam argumentos igualitaristas e sem nenhuma base na Escritura. Pois bem, agora já é bem possível a ordenação de homo-afetivos, a liberalização do aborto, etc. “A Bíblia é ultrapassada e não regulamenta assuntos modernos”. Sinto muito por isso!
Não estou aqui propondo a discussão sobre ordenação feminina, é assunto para o futuro, mesmo que esteja de acordo com a posição histórica da Igreja e da Missão da Mulher, minha intenção é ilustrar a rejeição prática da Bíblia como Palavra de Deus e regra de fé.
         As pessoas dizem acreditar na Bíblia e afirmam que seus ensinos são importantes, mas em muitos casos aquilo que dizem acreditar não é confirmado pela prática, governo e disciplina. Gosto muito da afirmação sincera e digna do Bispo Robinson Cavalcante: “Nossa Igreja é soteriologicamente calvinista (bíblica), mas a nível eclesiástico somos Romanos”. É preciso ter coragem e respeito pela Palavra de Deus para afirmar publicamente que em determinados aspectos sua igreja não se submete à Escritura.
         Quantos costumes, doutrinas, experiências, ministérios, crenças supersticiosas e palavras, surgem como fruto da imaginação humana e não através de um estudo sério e sincero da Bíblia, em alguns casos até o linguajar é esquisito.
         Por todas essas coisas é necessário afirmar que a Bíblia continua sendo a Palavra de Deus e é suficiente para nossa fé, vida com Deus e cumprimento da Missão. Todas as coisas necessárias para nossa salvação, comunhão, vida social, bem estar da Igreja e vida familiar estão claramente reveladas na Bíblia. A Bíblia não responde todas as nossas perguntas, mas nos revela claramente aquilo que é necessário e suficiente, aquilo que não é claro é possível através de muita cautela deduzir a vontade de Deus, estudando e meditando na totalidade da Escritura.

† A doutrina da suficiência da Bíblia nos leva a uma pergunta: Por que a Bíblia é suficiente? O que garante que não precisamos de mais nada e que o Espírito fala pela Escritura.
Vejamos algumas características da Bíblia que confirmam internamente sua suficiência e poder.

Em primeiro lugar a Bíblia é suficiente porque é a Palavra de Deus. Algumas pessoas e religiões afirmam ser a Bíblia um livro comum, sagrado pelo assunto e por ser acreditado pelo Cristianismo e importante nos diálogos religiosos e ecumênicos.
Para os “novos evangélicos” (novas igrejas que não seguem o cristianismo histórico), a Bíblia é a Palavra de Deus, mas para os dilemas da vida cotidiana ela não possui respostas e há um teor muito moralista, radical e ultrapassado. Isso exige uma releitura, esta através de novas interpretações ou até mesmo de novas revelações do Espírito.
A própria Escritura desaprova essas perspectivas, a Bíblia não foi produção religiosa independente, e nem mesmo fruto da imaginação de um ou outro profeta desinformado ou sob surto esquizofrênico. Não é fruto de invenção humana, pois a própria Escritura afirma que os autores da Bíblia foram homens comuns, porém movidos pelo próprio Deus, ela é sempre atual e relevante. Ele, na medida que escolhia seus cooperadores escritores os movia pelo Espírito Santo, esse mover foi exclusivo e sobrenatural, mesmo assim o Espírito continuou utilizando as características humanas na escrita e nos costumes. Isso quer dizer que tudo que está escrito, está escrito por vontade de Deus e propositalmente. A Bíblia se torna um Livro – Divino/Humano, a Palavra de Deus recebida como revelação e transmitida em linguagem humana, submetida a métodos literários e sendo necessários critérios para uma correta interpretação – leia 2Pedro 1.20-21.
Outra questão importante é que os autores bíblicos são testemunhas oculares e de primeira ordem (não como pensa Karth Barth, ainda que sou devedor a ele). A transmissão da revelação não aconteceu como fruto da religiosidade de Israel ou invenção mitológica para exaltar o Cristo da Fé, os “crentes” que se fundamentam na Escritura entendem pela própria Escritura que os autores bíblicos ouviam face a face ou através de sonhos e visões as Palavras de Deus. Em alguns casos essa manifestação era um ditado, em outras o próprio Deus escreve (dez mandamentos), há relatos verdadeiros extraídos de outros livros e confirmados pelo Espírito e na consumação a Palavra é encarnada e suas Palavras e obras são registradas como genuínas Palavras de Deus. Como diz em Hebreus 1.1-2: “Deus falou de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho...”. Aqui temos a revelação concluída – Antigo e Novo Testamentos, Deus falando à humanidade, agora por sua Palavra escrita. Ex 20.1-17, 34.27; Jo 1.1; 1Jo 1.1-3; Etc.

Em segundo lugar a Bíblia é suficiente porque foi inspirada por Deus. Este ponto poderia estar incluído no anterior, porém devido à dificuldade que muitas pessoas têm para aceitar e entender a inspiração, achei mais didático tratar separadamente.
         Como já foi visto, a Bíblia é um Livro Divino e Humano ao mesmo tempo, se a Escritura afirma essa verdade, como é possível? A resposta está na palavra Inspiração.
Esse conceito pode ser a pedra de tropeço para muitas pessoas. Começo demonstrando isso através de dois relatos. Alguns pastores estavam reunidos e por alguma razão, alguém citou 1Cor 7 para falar sobre casamento, após alguns minutos outro pastor que não concordou com o que havia sido dito, respondeu: “Isso não é válido, pois o Apóstolo Paulo não serve como exemplo para falar de casamento” e ainda mais, “Paulo fala que ele está dizendo e não o Senhor”! Fiquei admirado com a compreensão equivocada desse Ministro sobre a Bíblia, será que esse irmão não aprendeu sobre inspiração no seminário? A Bíblia não diz que “toda a Escritura é inspirada”, ou seja, Palavra de Deus?
O sentido óbvio do texto é que o Apóstolo fala que, o que ele está dizendo não foi dito por Jesus, é algo novo, ou seja, ele está dizendo como aquele que recebe revelação e na autoridade Apostólica, sob inspiração do Espírito.
Outro relato foi uma conversa com um amigo que começou a realizar “novenas” na igreja, eu perguntei: Porque vocês precisam dessas novenas de sete em sete dias para conquistar as coisas ou para buscar a Deus? Ele respondeu: “É necessário motivar a fé das pessoas, sem algo assim eles não ficarão na igreja, as campanhas geram fé nos irmãos”. Indignado eu respondi que essa era a função da Bíblia, é isso que diz em Romanos 10.17, então a pregação deveria ser a única alternativa. Assim a última resposta foi: “Os irmãos não querem saber disso, eles precisam de algo novo, que motiva e os mantêm na igreja”. É! Que pena!
Essa mentalidade é que faz de nossa nação um campo fértil para heresias, esquisitices, esoterismo, modelos de crescimento de igreja e etc, etc, etc, etc!!!
A inspiração é que faz a Bíblia ser o diferencial de outros livros sagrados. O fato é que o Deus criador de todas as coisas, Senhor da terra e tudo o que nela há, resolveu por sua livre escolha e decreto se revelar a humanidade. Essa revelação, primeiro foi geral. Através da criação, a Bíblia relata que é possível conhecer Deus e seus atributos. A questão é que o pecado obscureceu o entendimento do ser humano, e este em lugar de adorar, reconhecer e viver para a glória de Deus, trocou o propósito e começou a fazer abominações idólatras, trazendo para si condenação e afastamento total do Criador – Romanos 1.18-27; 3.9-18,23.
A queda do ser humano, ofuscou seu entendimento. O Criador em seu decreto (conselho, beneplácito), por sua imensa graça e misericórdia, a fim de revelar Sua Eterna Glória e Sabedoria no propósito de salvar alguns para sua presença e justamente manter os outros para juízo, providenciou meios para que sua vontade prevalecesse diante de tamanha rebelião e orgulho. O meio natural não foi suficiente, devido ao pecado; mas agora aprouve ao Criador revelar de forma especial em Jesus e na Escritura (Bíblia), Sua vontade, seus atributos e a obra da redenção em Cristo. Essa revelação especial é conhecida conforme descrição de Hebreus capítulo 1 - Deus falou, de diversas maneiras pelos profetas, agora fala pelo Filho (Jesus). Essa fala de Deus não foi transmitida como telefone sem fio, sendo alterada ou acrescentada, mas esses Profetas, registraram as revelações que iam recebendo. No Novo Testamento, os Apóstolos ou alguém que andou com um Apóstolo registraram tudo o que viram e ouviram, como testemunhas oculares do próprio Jesus em vida ou sob revelação direta do Cristo ressuscitado.
A inspiração significa que tudo que receberam diretamente de Deus ou foram tocados por Ele, eles registraram. O Espírito de forma poderosa estava conduzindo-os em toda a verdade, controlando propositalmente tudo que estava sendo registrado (escrito). Até mesmo as palavras não diretas de Deus devem ser incluídas na Escritura como sendo a Palavra de Deus, pois tudo quanto está escrito na Escritura é inspirado e plenamente a vontade do Espírito.
A conclusão é que se o texto bíblico (2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21), confirma a atuação direta naqueles homens comuns e ainda afirma que a Escritura é plenamente inspirada, podemos descansar que toda a vontade de Deus está na Escritura, é por meio dela que Ele nos fala e conduz. Não há nenhuma necessidade de outros recursos ou a espera de manifestações místicas ou mesmo aparição de algum “anjo” ou mestre especial como mediador. A inspiração é a base e convicção da suficiência da Escritura.
Qualquer outra forma de se relacionar com Deus e conduzir a vida cristã é subjetiva e passível de erros e muitas dúvidas, meu “apelo” aqui é: retornemos à Escritura, como fundamento e regra de fé, governo e disciplina, o único instrumento de  juízo verdadeiro e única revelação e doutrina verdadeira - “Sola Scriptura”.
Não rejeito a tradição e nem mesmo acredito ser apropriado lançar mão dela, o Espírito de fato tem conduzido sua Igreja ao longo da história, estamos sobre os ombros de homens de Deus e que interpretam corretamente a Escritura, mas mesmo com todo meu respeito e paixão pela tradição, a Escritura sempre é a palavra final!
Quando a tradição tem apoio da Escritura ela de fato é recurso de Deus para o bem da Igreja, quando acontece o contrário, vemos o resultado na repreensão de Jesus no texto de Mt 15 – leia 2Tm 3.16.

Uma nota:
         Quando ensino sobre a doutrina da suficiência da Escritura, alguns alunos mais entusiasmados me questionam, dizendo: “Pastor, então quer dizer que o Sr não acredita nos dons”? Agora que decidi escrever um artigo sobre isso e estou começando a ter idade de perder alguns receios, resolvi arriscar um pouco e escrever sobre essa questão.
         Eu estou em pleno acordo com a teologia reformada sobre essa questão, porém duvido de alguns plenamente cessacionistas. Um texto cessacionista que mexe comigo é Hb 2.1-4, o texto é claro que os dons eram manifestações que confirmavam a palavra falada, assim como sinais e prodígios. A questão é que realmente, com a palavra falada sendo escrita não há necessidade de distribuição de dons, isso está claro pelo fato de não acontecer mais sinais e prodígios, isso foi confirmação Apostólica e não é visto mais em nenhum lugar. Não tenho motivos para acreditar na cessação de sinais e não dos dons. Minha conclusão aqui é claramente conhecida pelo fato de não ser cessacionista absoluto, mas acredito que pelo menos alguns dons cessaram.
         Por que não apoio o cessacionismo absoluto? Há um mistério sobre a questão dos dons e na rotulação cessacionista e contemporaneidade. Não consigo ver tanta clareza como os cessacionistas absolutos e nem como vêem os da contemporaneidade.
         Na questão da contemporaneidade tenho um olhar especial para 1Cor 1.6, o texto citado afirma que os irmãos receberam a graça em Cristo, essa graça os enriquece com todas as coisas e confirmam em Cristo oferecendo a eles os dons, entendo que estes dons serão oferecidos até a vinda de Cristo e assim permanecerão sendo confirmados e aperfeiçoados, isso é possível também ver em Ef 4. Tenho certeza que pelo menos alguns dons estão em vigor e são úteis para o aperfeiçoamento e edificação da Igreja, por isso sou pastor e não serei apóstolo. Estes não existem mais, mas o presbiterato permanece firme.
         Esse antinômio da doutrina dos dons me auxiliam na suficiência da Escritura, pois se vejo uma dificuldade sem muitas explicações, isso deve me aproximar da suficiência e acreditar naquilo que é óbvio e claro, ou seja, deixar sobre o juízo de Deus e não sobre a subjetividade da experiência particular de alguém ou de algum movimento qualquer. Agora uma convicção tenho, mesmo havendo dúvidas sobre a questão, a liberdade absoluta de Deus é bem compatível com a suficiência.
         Nosso Deus em sua Soberania, pode atuar com ou sem os meios que criou ou destinou, isso me leva à possibilidade da distribuição de dons, se ele assim desejar. Deus não está preso a nada e não depende de nada para fazer o que quer e quando quer, Ele e somente Ele é absolutamente livre!

Conclusão:
Não precisamos de mais nada, pois a única regra de fé e prática na vida é a Bíblia, pois ela é a Palavra de Deus. Nós recebemos fé e alimento espiritual pela Palavra, conhecemos a Deus e seu plano pela Palavra e conhecemos a salvação pela Palavra – leia Salmos 119.18.

3 comentários:

  1. Pr. Glauco fiquei preocupado ao ler sobre os "novos evangélicos". Aliás o chamado "evangelicalismo" (não sei se essa expressão cabe) tem nos envergonhado. Será que precisamos voltar a ser chamados de protestantes?

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  2. Sinto que ultimamente "Fé" esta sendo mal interpretada e para atrair, está sendo ensinada ou entendida por alguns como garantia do que se vê e esperar o que se prova.
    A Bíblia, sim é suficiente bem como uma vida dedicada a santidade. Quanto aos dons, penso que nada é impossível para nosso Deus, conforme a sua vontade.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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